A construção da identidade do escritor

quinta-feira, 20 de abril de 2017
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Nesta terça-feira, no Encontro Entre Escritores, tivemos uma finalidade “essencialmente” importante: a construção da identidade do escritor. Márcia Lobosco levou o texto “O prazer de ler”, de Heloísa Seixas, para iniciar os debates.

As pessoas gostam, aliás, precisam escrever para se manifestar. Para si. Para o outro ou o grande Outro, como dizia Lacan. A escrita pode ser considerada, digamos, um crivo, uma marca que nos registra no mundo. Escrever enobrece e transforma. Através das palavras, escutamos a nossa sinfonia. Somos como uma orquestra que é composta de vários instrumentos. Temos corpo, mente e alma; temos experiências; somos situados num lugar que tem história, cultura e pessoas que nos imprimem influências e determinações, como tu és! Somos seres que tendemos ao desafio; dentro de nós tudo se afina e desafina a cada instante.

Por algum tempo, pensei que escrever fosse moda. Mas hoje, inclusive agora, escrevendo esta coluna, tenho a certeza de que quem escreve necessita conhecer melhor. O Eu, o outro e o grande Outro. Empregamos as palavras para nos afinar!

Porém. Ser escritor é outra coisa; a construção da sua identidade requer postura profissional. Quando definimos uma profissão é porque dela queremos retirar, através do trabalho, recursos financeiros para realizarmos nossos propósitos. Queremos viver bem; ter um lar, família, viajar e assim por diante, tal qual os engenheiros e economistas, médicos e advogados.

Então. Ser escritor não é ser diferente.

Entretanto. Os artistas não são valorizados em sua maioria. Muitos ou alguns deles são tão excelentes quanto os que se sobressaem na mídia. Muito ou alguns deles e eu me incluo neste grupo, não têm identidade construída. São pessoas que escrevem por prazer e querem compartilhar este sentimento com todos.

Assim. Entrar no mundo profissional é conviver com situações que possuem jogos de interesse e poder. Aquele escritor sonhador se transforma num profissional portador de agressividade, estratégia, modos de pensar e agir próprios do universo capitalista. Não dá para ser de outra forma. Caso contrário, não sobrevive ao mercado, uma vez que sua obra é um objeto de consumo e é desta forma que deve ser considerada.

Certamente. Esta coluna é o começo de discussões saudáveis e interessantes. Por que nós, que temos um olhar sensível à vida, que tanto nos preocupamos com o outro e o grande Outro, temos que ficar no limbo, nos privando do prazer da realização de desejos? Por acaso, não iríamos ficar felizes se pudéssemos ver em nossa conta bancária os frutos de nossa arte?!

Afinal de contas. Tudo, nesta vida, tem um custo financeiro!

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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