A 72ª conquista

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
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Estamos chegando ao final de 2016 e senti vontade de pensar sobre meu processo de escrita, através do qual componho as colunas que escrevo para este jornal. Hoje, são 72.

Logo, a sensação de estar diante de desafios me invade. Escrever semanalmente a respeito de um assunto que seja inédito, pelo menos, para esta coluna, é um processo que me exige um olhar especial para a vida reproduzida pelos gêneros literários, pesquisar e ler. Além do mais, suscita a articulação de ideias, a transcrição destas para o papel e a busca da qualidade do texto. É, sem dúvida, um trajeto animador; a pesquisa e a leitura me permitem refletir sobre os fatos e a escrita me faz evoluir como escritora. Um texto sempre transforma o escritor e melhora sua pessoa. Talvez por causa da motivação para elaborá-lo que parte de uma curiosidade, às vezes de memórias interessantes ou de espantos, como dizia Ferreira Gullar.

Quem escreve mergulha nas entranhas de um tema que acaba por mobilizar as suas próprias. Ah, ao fazer esta coluna, tenho a sensação de atravessar um túnel cheio de arte, cor e descoberta; quando escrevo, começo com um jeito de ser e termino de outro. É um processo místico.  

Escrever sobre a literatura já se tornou para mim uma rotina, quase um vício, se é que assim posso dizer. Já me acostumei a sentar na frente do computador enquanto tomo o café da manhã e a escrever um primeiro rascunho a partir de um título norteador. Aos poucos, durante um ou dois dias, vou corrigindo e procurando a melhor forma de expressão. As paradas entre uma correção e outra tem uma magia interessante; quando o texto adormece num canto qualquer da casa, consigo ver erros gramaticais e desacertos de construção de frases e parágrafos que em releituras seguidas não consigo. E, por final, dou um título definitivo que emerge do texto pronto.

A inspiração me é a ponta de uma ideia, como o topo de um iceberg que desponta no mar e, sob aquele pedacinho de gelo, há uma montanha a ser explorada. Às vezes, surge como uma ideia vaga e distante de mim, mas ao pesquisá-la e desenvolvê-la, a totalidade da ideia vai se revelando, puxando outras e mais outras. É como se houvesse um bruxo dentro de mim rico em conhecimentos, inteligência emocional e sabedoria. Isso até me transporta à Leonardo da Vinci que sabiamente disse que “aprender é a única coisa que a mente não se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende”. Além do mais ninguém perde o conhecimento que adquiriu.

Mas para desencadear este processo, precisei começar, em minha primeira coluna, falando das minhas avós e dos meus abacates. Elas me deram um amor criativo, carregado de histórias que acabaram por despertar minhas habilidades, que as considerei abacates, fruta nutritiva e que tem sustança.

Volta e meia, alguém me diz que viajo na maionese quando escrevo. Concordo. Surfo na literatura através das metáforas porque elas me permitem expressar melhor as ideias do que quando escrevo com objetividade. Elas são vetores que transportam sentidos e, como tudo é carregado de significados, ofereço ao leitor várias possibilidades de interpretação. Afinal de contas, segundo Goethe, “todas as coisas são metáforas”.

Enfim, escrever me faz feliz, principalmente por saber que alguém me lê. Certamente, esta é a minha principal motivação e responsabilidade.

P:S: Acabo hoje de escrever esta coluna, mas amanhã mesmo já penso em outra. Por hora, apenas vislumbro a ponta de alguns icebergs. Noutro dia, conversando com uma amiga, que é pintora de quadros e que está se aperfeiçoando na figura humana, falamos sobre a linha tênue que existe entre o que é arte e o que não é. Ela falou da pintura e eu da literatura.

Eita, que montanha interessante vou explorar!

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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