Vinci, a cidade de Leonardo

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Estive em Roma, onde passei três dias, e na terça-feira pela manhã, com a chegada da minha cara-metade, fomos para Florença. Ambas as cidades são indescritíveis: Roma, capital primeiro de uma república com mais de 300 anos de antes da era cristã, depois de um dos maiores e mais influentes impérios geridos pelo homem, com início no ano de 27 a.C. Florença, berço da renascença, cidade linda com obras tanto de arte como de arquitetura difíceis de acreditar terem sido feitas pelas mãos do homem. A catedral com sua cúpula do Duomo e a escultura em mármore de David, de Michelangelo, atestam a minha afirmativa; aliás, a riqueza de detalhes do David, com a musculatura muito bem delimitada e as veias do braço direito, saltadas, ressaltam a força intrínseca do homem, atestam a genialidade do escultor.

Mas, são duas cidades mais do que conhecidas e cantadas em prosa e verso e eu não teria espaço suficiente para falar sobre elas. Prefiro focar meu artigo na pequena cidade de Vinci, onde nasceu um dos maiores gênios da humanidade, ao mesmo tempo pintor, inventor, engenheiro, estudioso de anatomia, filosofo humanista entre as muitas de suas atividades.

Vinci está situada a vinte e cinco quilômetros de Florença, nas encostas do monte Albano e foi lá, a cerca de dois quilômetros e meio do centro, que teria nascido, em 15 de abril de 1452, Leonardo de Vinci. A casa foi inteiramente reconstruída e é um ponto obrigatório de visitação; o lugar é muito bonito cercado por oliveiras e vinhas, que contribuem para a economia dos quase 14.000 habitantes, que na realidade vivem em da função da fama de seu mais ilustre cidadão.

Com exceção da igreja de Santa Cruz, muito bonita por sinal e do santuário da Anunciação, os demais lugares foram construídos em homenagem a Leonardo de Vinci. Assim, o museu Leonardiano, que foi inaugurado em 1952, coincidindo com os festejos dos quinhentos anos de seu nascimento, e restaurado em 2010, expõe uma das coleções mais completas e originais de maquetes das máquinas e modelos por ele inventadas, baseadas nas indicações precisas de seus desenhos e manuscritos. É fruto de sua genialidade a concepção da bicicleta; da roupa de mergulho; da grua não só suspendendo como movimentando o peso; do tear e da roca; do barco movido a roda por meio de manivelas, que lógico, funcionava pela força humana; da engrenagem, dos rudimentos da escada magirus e muitos outros. Além disso, fez um estudo muito avançado, para a época, do funcionamento do olho humano. Apesar de não ser belicista, é dele a concepção da metralhadora, do tanque de guerra, da ponte de assalto de construção rápida e do canhão.

Na igreja de Santa Cruz estão expostas algumas cópias de suas obras artísticas mais famosas, como a Última Ceia, a Mona Lisa, a Anunciação e São João Batista. A sua técnica era inovadora, pois usava várias camadas de tintas, o que conferia à tela uma aparência esfumaçada. Por ser trabalhosa, não teve seguidores.

Faz parte da visitação, no centro da cidade, o que restou do castelo do Conde Guidi, a muralha e a torre central, cujo acesso é por escada, bem alta por sinal, aberta ao público e de onde se tem uma visão panorâmica muito bonita; lá do alto é possível distinguir a casa em que de Vinci nasceu.

Como a cidade de Pistoia fica a vinte quilômetros dali, deu vontade de visitar o cemitério em que estão enterrados alguns soldados brasileiros mortos na campanha da Itália, cujos combates começaram em meados de setembro de 1944. Participaram ao todo 25334 homens, com 2459 mortos ou no confronto direto ou por ferimentos de combate.  A maioria foi transladada para o monumento aos mortos da segunda guerra mundial, no aterro do Flamengo, restando na Itália apenas aqueles cujas famílias preferiram que eles permanecessem aonde tombaram em defesa da liberdade. A FEB (Força Expedicionária Brasileira) ainda teve quase 12 mil baixas por mutilação ou outras doenças.

Isso não explica o seu estado de abandono, contrastando com outros cemitérios militares espalhados pela Europa, muito bem cuidados e conservados. O mínimo que o governo brasileiro tinha de ter era respeito pelos seus mortos em combate.

Foto da galeria
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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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