Uma garota estuprada por mais de 30 homens

terça-feira, 31 de maio de 2016

Uma garota estuprada por mais de 30 homens causou comoção na cidade do Rio de Janeiro; no entanto, tão ou mais grave que essa barbárie foi a declaração do delegado Alessandro Thiers, responsável pelas investigações, dizendo não estar convencido de ter havido um estupro.    Mesmo após a divulgação, via internet, da cena chocante mostrando a adolescente de 16 anos, deitada numa cama, seminua e, aparentemente, inconsciente, com sangue a escorrer entre as pernas. Mesmo após o comentário irônico de um dos participantes dizendo: “tem de engravidar, foram mais de 30”, o delegado ainda hesita em aceitar o estupro. Talvez seja daquelas sumidades que ao se deparar com uma vítima esquartejada, conclua que está afastada a hipótese de suicídio.

Mas a insensibilidade demonstrada por seres que se dizem  humanos é ainda mais preocupante quando vemos a foto de Raí de Souza, sorrindo e fazendo sinal de positivo, ao chegar à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), na companhia do namorado da jovem. Parecia que saía de um espetáculo do qual teria gostado muito. Sem ser cínico, ou sarcástico, pensei com os meus botões: “deve ser um caso típico de sexo virtual e essa garota foi molestada por 30 computadores ou tablets”. Essa é a única explicação para a investigação estar nas mãos da DRCI e não na da DCAV (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima).

Mas, se postar fotos de pessoas nuas, sem seu consentimento, é crime ainda mais em se tratando de menores, não se entende a passividade do delegado. Não estamos na Idade Média, infelizmente, mas a declaração de uma moradora do morro São José Operário, onde os fatos aconteceram, nos remete à essa época da história da humanidade, onde a justiça era feita de maneira sumária.

 Ao ser entrevistada ela disse que “o dono do morro já avisou que vai pegar todos”. Aliás, o senhor feudal daquela época não avisava, simplesmente fazia. Crime hediondo, mácula a mais numa cidade onde a criminalidade impera e parece dar as cartas. Prisões preventivas já deveriam ter sido providenciadas e o estado atuando de forma implacável, cumprindo seu papel maior que é o de garantia a integridade das pessoas, principalmente dos jovens, sobretudo se são do sexo feminino.

Aliás, estava mais do que na hora de alterarmos nossas leis, tornando-as mais rigorosas e acabando com esse besteirol de redução das punições, em caso de bom comportamento. Crimes considerados hediondos, deveriam ser purgados nas masmorras de antigamente, plantados em locais ermos, bem afastados da civilização. Bestas humanas deveriam ser tratadas com tal, privadas do convívio social, que renegam; essa história de que todo ser humano é passível de recuperação parece viável para juristas, psicólogos e religiosos, mas sem comprovação no nosso dia a dia.

Nossas leis são muito brandas, um convite a transgredi-las, mas nunca serão muito rigorosas, pois seus autores temem serem vítimas do próprio fel. Falta ao Brasil um banho de civilidade e de disconfiômetro.

Tivemos, há cerca de 15 dias, um exemplo típico de como nossas autoridades são insensíveis e pouco ligam para as consequências de seus atos. Suzane Richtofen, presa e condenada por ser mentora da morte do pai e da mãe, recebeu um indulto, exatamente no dia das mães. Parece humor negro e é. Nem no dia de Natal, ela mereceria tal indulto, pois se o Natal é uma festa típica da família cristã, e ela destruiu a dela, vai comemorar o que?

Para que o calvário dessa jovem violentada semana passada no Rio, covardemente agredida sexualmente, não seja insuportável é dever das autoridades desse falido estado, providenciar apoio psicológico de qualidade, acompanhamento médico de excelência, pois ela está sujeita não só às DTSs (doenças sexualmente transmissíveis) e a Aids, mas a danos físicos que possam comprometer sua condição de mulher, além da salvaguarda da sua integridade física, pois ao denunciar o ato que sofreu, pode receber ameaças de quem os praticou.

Zika, dengue, arrastões, estupros, assaltos com ou sem mortes, ciclovias que desabam com apenas três meses após serem inauguradas, belo cartão de visitas para uma cidade que se diz maravilhosa, sede das primeiras olimpíadas em solo sul americano. E ainda há quem critique o Rivaldo, ex-jogador da seleção brasileira, que desaconselhou os estrangeiros de desembarcarem no Rio, para as olimpíadas. 

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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