O mundo parece uma nau sem rumo

quinta-feira, 01 de junho de 2017

Dois meses e meio fora e tirando a saudade dos familiares, dos amigos, da minha casa e de assistir ao vivo os jogos do Fogão, nenhuma falta me faz o Brasil. Pelo menos de longe, os efeitos da vergonha que nossos políticos e empresários podem causar ficam diluídos pelas coisas boas que temos por aqui. E bota vergonha nisso, um bando de delinquentes que se valem de um povo ignorante e conivente. Sem a menor desfaçatez dilapidam a economia do país, empobrecendo-o e tornando mais difícil o fardo que os menos favorecidos têm de carregar, que como mulher de malandro, continuam reelegendo-os.

Mas, políticos corruptos, sem um pingo de ética e moral para exercerem um cargo público, não são exclusividade nossa, pois o que sinto aqui na França, conversando com as pessoas, não importando a classe social, é que os franceses não têm mais paciência para com os seus homens públicos. Aliás, nessa última eleição presidencial, a taxa de abstenção foi bem alta, em torno dos 25%.

Conhecemos muitos portugueses que vieram para a França em busca de trabalho, aliás patrícios são o maior bem durável exportado por Portugal. Eles também falam muito mal dos seus políticos e têm certeza de que muitas das mazelas por que passaram ou passam foram fruto da incompetência e da ganância desses senhores que, em princípio, são eleitos para cuidar dos destinos do país e garantir o bem-estar e a qualidade de vida da população.

Até na Alemanha, onde existe uma estabilidade digna de um país próspero e bem estruturado, as pessoas que lá conheço reclamam muito dos altos impostos que são obrigadas a pagar.

Será que a democracia, como o foi um dia a monarquia, está com sua vida útil esgotada e devemos procurar uma outra forma de governo? Ou seria de capital importância uma escola, tipo ensino profissionalizante, na qual os futuros candidatos a um cargo público deveriam frequentar, só podendo disputar eleições quem obtivesse no mínimo uma nota sete ao final do curso? Não se espantem com a terminologia “ensino profissionalizante”, pois ser político tornou-se uma profissão na maioria dos países que adotam a democracia como forma de governo. Daí que todos, sem exceção, se preocupam sempre com a próxima eleição; qualquer medida impopular, mas necessária, jamais será abraçada, pois pode tirar votos.

Mas, talvez a salvação da lavoura esteja num retorno aos métodos de educação de nossos avós, dos nossos pais e dos nossos mestres, devolvendo a eles a relevância da ação de educar, coisa que a Psicologia moderna se encarregou de destruir. Para ela, os métodos antigos eram causadores de traumas terríveis e deformadores do caráter das crianças e jovens, levando-os em massa aos divãs dos psicanalistas, apesar de pessoalmente não conhecer ninguém nessas condições. Será que o estatuto da criança e do adolescente não precisaria de uma revisão? Esses delinquentes com mais de 15 anos são realmente inocentes e incapazes de responder pelos seus atos? Será que uma palmada na hora certa é passível de punição aos pais que dela se serviam? Vejam bem, um causídico do alto de sua sagrada sapiência, considerou antidemocrática a detenção dos frequentadores da cracolândia, em São Paulo, pois ninguém pode obrigar um cidadão a se tratar. Mas, a ameaça diária que esses usuários impõem à sociedade, isso é juridicamente correto?

A impressão que tenho hoje é que o mundo virou de cabeça para baixo, uma verdadeira nau sem rumo, e a globalização, um instrumento que ajudaria a humanidade a encontrar novos rumos, é muito mais utilizada em coisas fúteis, transformando-a em seres vazios e sem condições de pensar.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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