Faz-se mãe com palavras, gemas e algodão-doce

segunda-feira, 09 de maio de 2016

 

Cá de longe, do outro lado do oceano, em Portugal, Porto, envio um beijo às mães friburguenses, cariocas, brasileiras, portuguesas, chinesas, finlandesas. Enfim a todas as mulheres que se fazem mãe, que têm a vontade de colocar alguém na vida com suavidade e determinação.

Para homenageá-las vou relatar uma relação mãe e filho que presenciei num ônibus em Lisboa. Ela bem nova, de cabelos lisos que escorriam ombros abaixo, vestida de jeans, blusa de tecido e casaco nas costas. O menino, seu filho, moreno de olhos vivos e calças compridas, com uns cinco anos; não mais. Os dois iam sentados atrás de mim, conversando como bons amigos. Reparei que eram mãe e filho porque ele a chamou de mãe umas duas vezes. Não soube seus nomes, nem se eram de Lisboa. Mas, com certeza, eram portugueses pela língua. Ele perguntava sobre os detalhes de todos os lugares.  Ela, com calma, respondia a um número sem fim de perguntas, fazendo questão de explicar; não se cansava, nem pedia um tempo de modo a apreciar melhor a paisagem do mar. Quando passamos pelo Monumento aos Navegantes, ela lhe contou com brevidade algumas histórias sobre os heróis que se aventuraram por águas desconhecidas.

Na conversa, ela corrigia alguns pequenos erros de português que o filho cometia e pedia para que ele repetisse a frase corretamente. Quando isso acontecia ela dizia, “obrigada”. E, ele continuava a perguntar com firmeza, demonstrando tranquila satisfação. Possivelmente, para os dois era um momento gostoso, tanto quanto o de saborear algodão-doce num final de tarde.

Depois, eles se sentaram ao meu lado e pude reparar melhor aquelas duas pessoas em suas diferenças e simplicidades, em suas vontades de aproveitar cada instante de um domingo ensolarado. Somente os dois; um se fazendo presente ao outro. Eles vivam um estado de plenitude; estavam com o mundo nas mãos, quando um alimentava o outro com nutrientes, como os das gemas de ovos vermelhos.

Num determinado momento ele perguntou se poderia ficar de pé no acento para ver melhor a paisagem. Ela disse não e explicou que não se deveria colocar as solas de sapatos sujos em lugar onde outras pessoas iriam se sentar. Ele riu. E continuou a perguntar.

Um pouco mais à frente, eles desceram e não perceberam que eu estava ali, admirando-os. Reconhecendo o fazer-se mãe, num momento tão comum, quanto tão sábio.

O fazer-se mãe é um estado tão especial que o livro de uma amiga, Andrea Viviana Taubman, Sonho de Mãe, que conta para as crianças a experiência de ser mãe, belamente ilustrado por outra amiga, Sandra Ronca, me chama a atenção. Apenas porque as crianças devem saber que as mães não existem ao léu; o sentido de cada mãe, constrói o senso de cada filho.

Enfim, envio doces de quindim a todas as mães!

Afinal de contas, é tão bom sê-lo.

PS¹: O quindim é feito de açúcar e gemas de ovos.
PS²: É delicioso.
PS³: É uma ótima sobremesa para o dia das mães   

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