Vila Amélia: a chácara dos Martins Pinto - Parte 2

quinta-feira, 07 de julho de 2016

Antônio Alves Pinto Martins, o “Seu Martins”, como era conhecido, adquiriu, em 1914, o imóvel da família Salusse, conhecido como Sítio do Relógio, propriedade com extensão de 667.749 metros quadrados. Explorando comercialmente a chácara, construiu o “Mercado Villa Amélia”, onde vendia laticínios como leite, queijo e manteiga, verduras, legumes, frutas frescas e em conserva, mel e linguiças defumadas.

Apesar da memória familiar não fazer qualquer alusão, possivelmente fabricava vinho, pois tinha videiras com uvas de qualidade e uma árvore de cortiça em sua propriedade para fazer rolhas. Em janeiro de 1915, registrava a logomarca V.A., de Villa Amélia, com um V e um A entrelaçados. Todos os produtos comercializados tinham essa logomarca.

Para complementar a renda, alugava cinco casas dentro de sua extensa propriedade. A sua linda residência levou aproximadamente dois anos para ser construída, ficando conhecida como Mansão da Villa Amélia. Ficava em um planalto, a 195 metros da entrada da Villa Amélia. Foi inaugurada dia 18 de maio de 1916, tendo sida benzida por monsenhor José Alves de Miranda. Lindas glicínias formando trepadeiras na varanda enfeitavam a frente da casa.

Amélia, que deu nome a vila era o xodó da família Martins, por ser a única menina entre os sete filhos homens: Camillo (que morreu criança), Aníbal, Antônio, Abílio, Álvaro, Alberto e Alfredo. Amélia nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 1898. Devido ao grande amor filial à única menina, a residência da família em Nova Friburgo foi denominada de Villa Amélia.

Amélia tinha aulas de francês, piano e bordado como qualquer moça da elite de seu tempo. Casou-se em maio de 1919, aos 20 anos, com o português Antônio Almeida. A cerimônia foi celebrada ao ar livre pelo monsenhor José Alves de Miranda, na Villa Amélia.

Por ser o noivo proprietário da Confeitaria Palace, no Rio de Janeiro, todo o serviço foi realizado pela confeitaria. A família do noivo vivia em Portugal, razão pelo qual a lua de mel foi nesse país para que Amélia fosse apresentada a família do noivo.

Amélia e Almeida tiveram sete filhos e viveram nos primeiros tempos de casados em Nova Friburgo. Almeida trabalhando na confeitaria no Rio, somente ia aos fins de semana para a Villa Amélia. Devido a uma doença da quarta filha de Amélia, a família mudou-se para Portugal em 1929, passando a morar em Lisboa.

Enquanto residiram em Portugal por sete anos, Amélia teve dois filhos. Em 1936, retornaram ao Brasil, após a cura da filha, indo morar novamente na chácara da Villa Amélia. Depois de alguns anos Amélia e o marido se mudaram definitivamente para Niterói.

Amélia Martins de Almeida faleceu em 16 de fevereiro de 1950, com 51 anos de idade, um ano antes da venda da vila que levava o seu nome: Vila Amélia. Na chácara da Vila Amélia, chamava a atenção um pomar com pereiras, macieiras, goiabeiras, canforeiras, jabuticabeiras, laranjeiras, caquis, tojos, bananeiras, pita e nêsperas, cujas mudas vieram de Portugal.

No brejo plantavam hortaliças, legumes e aspargos. Havia a “árvore do palito” que se fazia nada menos que palitos. Na entrada, muitas hortênsias ladeando todo o caminho até se chegar à casa da família. No meio de uma enorme touceira de hortênsias se erguia um majestoso e imponente sobreiro, árvore que Antônio trouxe de Portugal e de onde se tira a cortiça para fazer rolhas das garrafas de vinho que possivelmente produzia.

À frente da casa, à direita, havia um lago com peixes, um chafariz e muitas flores: margaridas, azaléas, orquídeas, palmeirinhas, cravos, boca de leão e roseiras raras, onde se fazia enxertos delas. Na exposição do centenário da Independência em 1922, os Martins lotaram um vagão de carga da Leopoldina Railway com flores para serem exibidas na exposição.

Na chácara havia duas nascentes próprias e uma delas com uma queda d ́água que formava uma cascata que deram o nome de Cascata Carolina. A água era cristalina e potável e formava uma piscina natural entre as pedras. Um moinho e um riacho acionava um monjolo com um cata-vento.

Excursões ao Morro das Duas Pedras era um dos passeios prediletos dos Martins. Havia uma trilha no meio da mata até essas montanhas. Uma nascente no caminho era ponto obrigatório para um pic nic e para encher os cantis. De lá apreciavam a bela vista de Nova Friburgo.

Continua na próxima semana.

  • Foto da galeria

    A mansão da Villa Amélia foi concluída em 1916

  • Foto da galeria

    Amélia, que deu nome a vila era o xodó da família Martins. Na foto ela sentada com um cachorro ao colo e o marido à sua esquerda

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    Em 1915, Antônio registrava a logomarca V.A., de Villa Amélia, com um V e um A entrelaçados

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    O mercado Villa Amélia, vendia queijo, manteiga, verduras, legumes, frutas, mel e linguiças defumadas

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    A família em um pic nic. Detalhe para os colares com flores nas mulheres uma tradição nessa forma de sociabilidade

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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