SOS Praça Getúlio Vargas

sábado, 30 de maio de 2015

Na quinta-feira passada, 21, houve uma sessão especial na Câmara de Vereadores para se discutir a questão da derrubada dos históricos eucaliptos da Praça Getúlio Vargas. Estavam presentes, além dos vereadores, o representante do Executivo municipal, do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), do Ministério Público Federal, a Thecnische, empresa contratada para o projeto, e representantes do Movimento SOS Praça Getúlio Vargas. Foram sentidas algumas ausências, como a do secretário de Cultura, de Turismo, de associações civis como a Ordem dos Advogados do Brasil, do Clube de Diretores Lojistas, dos sindicatos, entre outros. Há um impasse no momento: o laudo realizado pelos técnicos da Estácio de Sá foi contestado por outros especialistas, através de um contralaudo, por apresentar falhas. O Movimento SOS Praça Getúlio Vargas exige um novo laudo e o Executivo municipal concordou em solicitar a uma universidade pública um novo parecer técnico. Foi um avanço. No entanto, depois de realizada na referida sessão a apresentação do projeto da praça pela empresa Thecnische, a polêmica se ampliou: além da condenação por parte dessa empresa de quase 90% dos centenários eucaliptos, propõe-se a instalação de quiosques, ou seja, um espaço de alimentação dentro da praça. Além de ser uma proposta esdrúxula, parece-me que no seu entorno existe comércio suficiente para atender aos transeuntes famintos ou sedentos que transitam pela praça. 

É notório que a maneira e a condução dos trabalhos das podas rasas dos centenários eucaliptos impactaram a população, mesmo entre os incautos que são a favor de uma mudança radical no paisagismo da praça. Faltou sensibilidade ao Executivo municipal de entender que o Movimento SOS Praça Getúlio Vargas é do “bem”: luta pela preservação de um patrimônio histórico e igualmente do meio ambiente. As tensões acabaram surgindo em razão do Executivo municipal não ter aberto um canal de diálogo. Igualmente o Iphan não se posicionou da forma devida, deixando correr solta a consulta feita pelo Executivo municipal a respeito da poda rasa dos centenários eucaliptos. O Iphan é responsável por três imóveis em Nova Friburgo: a Chácara do Chalet, também conhecido como Parque São Clemente, o Park Hotel e a Praça Getúlio Vargas, com o conjunto histórico edificado de seu entorno e os eucaliptos da espécie robusta. Gostaria de chamar a atenção que, além da praça, o Iphan igualmente tombou os eucalyptus robusta. Em outras palavras, o Iphan deu grande importância aos eucaliptos, pois foi o que restou do projeto de Glaziou, famoso paisagista que servia ao Imperador D. Pedro II. Mas os eucaliptos são igualmente o testemunho de um passado patenteando a salubridade de Nova Friburgo. Servia tanto para a drenagem do solo, evitando-se a formação de pântanos, quanto purificando o ambiente, pois se acreditava que a febre amarela vinha do ar, dos miasmas. Os eucaliptos garantiam no imaginário da época uma atmosfera salubre no qual se precisava demonstrar aos veranistas cariocas que fugiam da canícula e das epidemias de febre amarela no Rio de Janeiro. Outrora, denominava-se a praça de catedral dos eucaliptos. Um senhor nos seus mais de 80 anos me esclareceu do porquê ‘catedral’: em razão de suas frondosas copas se fecharem, de um lado a outro, como o domo (teto) de uma catedral.

Na justificativa do tombamento pelo Iphan, destaca-se sua arborização com renques de eucaliptos da espécie robusta, centenários, plantados por Glaziou, com dupla finalidade: a de conferir ao logradouro feição paisagística e a de sanear uma área alagadiça existente. Durante mais de quatro décadas desde que os eucaliptos foram tombados, o Iphan negligenciou em sua manutenção. Cabia a esse órgão dar a orientação técnica sobre a poda, e não o fez. Deixando de lado os erros do passado, seria simpático junto à população friburguense se o instituto revisse a sua posição no tocante a poda rasa, ou melhor, na derrubada dos centenários eucaliptos. O Movimento SOS Praça Getúlio Vargas apenas defende aquilo que o Iphan reconheceu como patrimônio histórico: os renques de eucaliptos da espécie robusta, centenários, plantados por Glaziou, no último quartel do século XIX, e com significativa longevidade.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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