Porto das Caixas

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O Vale do Macacu foi uma das primeiras ocupações no Brasil Colonial com quase 500 anos de história. Era uma das mais importantes regiões agrícolas do Recôncavo da Guanabara. Nas primeiras décadas de ocupação, a extração da madeira foi a base de sua economia. A facilidade do transporte da madeira era proporcionada pelo Rio Macacu e seus afluentes, que desaguando na Baía da Guanabara, alcançava o porto do Rio de Janeiro.

A retirada dessa madeira era feita por índios escravizados pelo colono português. Após a extração da madeira, no lugar da mata, surgem as plantações de cana-de-açúcar e de mandioca. Pelo Rio Macacu e seu afluente, o  Caceribu, circulava todo o comércio do vale até o porto do Rio de Janeiro.

Desde a antiguidade as vias fluviais constituíam os principais meios de circulação de gente e de mercadorias. Historiadores afirmam que o mediterrâneo era o “cimento líquido”, pois as estradas eram inexistentes ou inóspitas para o transporte de pessoas e valores.

Os engenhos do Vale do Macacu produziam açúcar, melaço, aguardente e fabricavam farinha de mandioca, constituindo a sua principal atividade econômica após o ciclo extrativista da madeira. Influência indígena, a tabatinga e a argila na região eram utilizadas para fabricação de utensílios de barro de uso doméstico e pelos engenhos para a fabricação das formas de barro para os “pães de açúcar”.

A cerâmica até o século passado fomentava a economia de Itaboraí, município que fazia parte do vale. No século 19, as freguesias desse vale passaram a se dedicar à cultura do café que conheceu o seu apogeu, como em Cantagalo e Nova Friburgo, entre as décadas de 1830 a 1870.

Porto das Caixas, das “caixas” de açúcar, se desenvolve como escoadouro da produção de Cantagalo e das duas freguesias cafeeiras de Nova Friburgo: Nossa Senhora da Conceição do Paquequer e Freguesia de São José do Ribeirão. Com o surgimento da linha férrea, por ter servido como entreposto comercial do açúcar, da farinha e do café, Porto das Caixas ganha em suas proximidades uma estação de trem.

No entanto, gradativamente vai perdendo importância, pois os novos ramais da Estrada de Ferro de Cantagalo retiram da via fluvial o seu relevo comercial. As freguesias e termos do Vale do Macacu se tornaram municípios a exemplo de Itaboraí, Tanguá, Itambi, e Cachoeiras de Macacu, entre outros.

Na década de 1920, Tanguá passa a abrigar uma usina já que os fazendeiros locais voltam a plantar cana-de-açúcar. No mesmo período, as culturas da laranja, notadamente em Itaboraí, da banana, da indústria de cerâmica, da olaria e do cimento, substituem a atividade econômica do café.

Transitando pela Manilha (Itambi) impossível nos darmos conta da importância econômica dessa região com estreitos laços com a história de Nova Friburgo. Uma obra de saneamento da Baixada Fluminense separou o Rio Macacu do Caceribu para reduzir o impacto das enchentes. Igualmente a construção de canais e adutoras, e a drenagem das áreas pantanosas, possibilitou a ocupação do homem com a edificação de residências em áreas outrora inabitáveis. Devido a instalação do Complexo Petroquímico (Comperj), da Petrobrás, nessa região, as obras de infraestrutura fazem emergir das escavações moedas nacionais e estrangeiras, objetos de uso pessoal, garrafas, enfim, um testemunho da circulação de riquezas nessa região no passado.

Protagonizado por Reginaldo Farias, Porto das Caixas foi escolhido como locação de um drama cinematográfico. O filme “Porto das Caixas” foi sucesso nos cinemas no ano de 1962. Dirigido e roteirizado por Paulo Cézar Saraceni, considerado o melhor filme do Festival de Cannes de 1964, recebeu igualmente prêmio com a trilha sonora de Antônio Carlos Jobim.

Porto das Caixas, o filme, denota a importância econômica e social décadas antes desse entreposto comercial.

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    Protagonizado por Reginaldo Farias, Porto das Caixas, foi escolhido como locação de um drama cinematográfico em 1962

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    Foto Google do Rio Macacu e seus alufentes. Destaque para a posição de Porto das Caixas

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    Hoje atração turística, um banho no Rio Macacu antes que ele desemboque na baía da Guanabara

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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