Nossos médicos

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Ao longo do século 19, o prestígio do bacharel em direito nos quadros da administração pública vai diminuindo gradativamente para dar lugar ao médico. Em Nova Friburgo não foi diferente. O livro de Dalva Ventura, “Nossos Médicos”, ajuda a contar a história política e social do município sob o viés de importantes atores históricos: os médicos. Dalva inicia com o primeiro deles, Jean Bazet, que acompanhou os colonos suíços dando-lhes assistência. Acertadamente dedica um capítulo a Carlos Éboli. Esse médico trouxe grandes benefícios a vila serrana. Sem a presença de Éboli em nossa cidade não teríamos atualmente o Colégio Anchieta, o prédio em estilo neoclássico do Colégio Nossa Senhora das Dores e a intervenção do paisagista do Imperador D. Pedro II, Augusto Marie Glaziou, na Praça Getúlio Vargas.

O clima salubre da vila serrana atraía tuberculosos, pois se acreditava que o clima frio e seco das montanhas auxiliava na cura dessa doença. Se havia muitos tuberculosos haveria consequentemente tisiologistas atraídos por essa demanda de pacientes. É justamente nos artigos “E a peste branca toma conta de Friburgo” e “O H.T. do Sanatório Naval” que Dalva Ventura descreve o impacto dessa doença em Nova Friburgo. No artigo “Médicos e políticos com muita honra”, demonstra como a prática da medicina e da política se imbricam numa simbiose tão perfeita que ironicamente parece constar no juramento da profissão, além da ética, igualmente a prática política. Galdino do Valle Filho é um exemplo desse paradigma, abrindo caminho para outros profissionais da saúde no cenário político. Já nos textos dedicados a Dermeval Barbosa Moreira e Alberto Braune, a autora demonstra como a ausência do Estado na política de saúde pública faz emergir profissionais da saúde altruístas, que dedicam parte das horas de seu ofício aos desvalidos.

Dalva Ventura foi muito feliz no texto sobre o Centro de Saúde em que coloca esse estabelecimento como uma nova fase da medicina em Nova Friburgo. Os médicos paulatinamente vão abandonando a consulta domiciliar para atender os pacientes em um ambulatório. A medicina evolui e os médicos generalistas vão dando lugar aos especialistas. Igualmente se articulam criando a associação médica. No entanto, não abandonam o cenário político. Os capítulos dedicados a Feliciano Costa e Amâncio Azevedo são exemplos de que ainda têm espaço na tribuna política. Dalva Ventura a partir de então vai demonstrando o avanço de instrumentais para os médicos, a exemplo dos laboratórios e do ineditismo do Banco de Sangue.

A mãe gestante e a criança se tornam preocupação da classe médica sendo dedicados vários textos sobre o avanço nos serviços de maternidade e pediatria. Nos capítulos seguintes, descreve sobre os médicos que vêm sucessivamente dando a sua contribuição tanto à saúde pública como a privada. Nossos Médicos não é apenas a apresentação de figuras relevantes da medicina em Nova Friburgo. É notadamente uma deliciosa leitura de quase dois séculos de nossa história em que os profissionais de saúde foram importantes atores históricos. Nossos Médicos demonstra que não podemos excluí-los na análise de nossa história política e social.  

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    Alberto Braune ao centro com a família

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    Dermeval Barbosa Moreira, o médico dos pobres

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    Livro Nossos Médicos

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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