Fazenda Penedo: dos Pinheiro aos Araújo

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Visitei a Fazenda Penedo em Duas Barras e conheci a simpática família Araújo, proprietários da fazenda. Além da criação de gado destinada a atividade leiteira, os Araújo pretendem tornar essa fazenda um local de lazer. A Fazenda Penedo foi construída em 1881, pela família Pinheiro. A casa-sede, em estilo neoclássico, apresenta na sala de visitas uma decoração mais requintada em relação aos demais cômodos da residência. Há o registro de pratarias e porcelanas trazidas da Europa, comprovando a adoção do estilo de vida europeizado dos primeiros moradores.

Na ocasião, a propriedade pertencia a Cantagalo. Dez anos depois, em 8 de maio de 1891, essa região se emanciparia de Cantagalo dando origem ao município de Duas Barras. A Fazenda Penedo era uma típica unidade de produção de café do período do império. Porém, o fim do trabalho escravo associado a um surto de febre amarela ocorrido em Cantagalo, no final do século 19, teria provocado a falência da família Pinheiro.

Em 1922, a fazenda já pertencia ao capitão José Monnerat Júnior. Os Monnerat são dos grupos de colonos suíços que chegaram a Nova Friburgo, em 1819, habitando um núcleo colonial e François Xavier Monnerat veio com a esposa e sete filhos. Era uma família de tradição de agricultores e sem recursos. Dezessete anos após a sua chegada à Vila de Nova Friburgo, em novembro de 1837, já temos registro dos Monnerat adquirindo terras em Cantagalo. Na Fazenda Penedo, na administração de José Monnerat Júnior, a produção anual atingia duas mil arrobas de café, além de plantação de cana de açúcar, cereais e criação de gado.

Além da produção de café, sua base econômica, plantava-se milho para fazer o fubá e arroz. Também fabricava-se rapadura e cachaça, cujo excedente era comercializado na localidade. A propriedade com 250 alqueires possuía engenhos de cana e de serra movidos pela força motora hidráulica.

Possivelmente devido a perda da visão do capitão José Monnerat a fazenda foi vendida em 1924, a José Araújo de Barros. Era proveniente de Portugal, da Ilha da Madeira. Imigrou como colono pobre juntamente com o irmão para o Brasil no final do século 19, se estabelecendo em Cantagalo. Casou-se com Maria Araújo Faria e tiveram 15 filhos. Quando adquiriu a Fazenda Penedo já tinha cinco outras fazendas.

Depois de três décadas estabelecido no Brasil, mais precisamente em Cantagalo, o colono José Araújo de Barros que aqui chegou sem um vintém no bolso, assim como os Monnerat, conseguiu fazer fortuna. A Fazenda Penedo foi transmitida por herança a um de seus filhos, Manoel Araújo de Barros e na sucessão seguinte ao seu neto Roberto de Melo Araújo, proprietário atual e que me recebeu em sua fazenda.

Na gestão de Manoel Araújo a fazenda foi gradativamente deixando de plantar café e migrando para a criação de gado leiteiro. Quando José Araújo de Barros adquiriu a Fazenda Penedo dos Monnerat possuía 250 alqueires. Na sucessão, o pai de Roberto ficou com 100 alqueires e hoje a Fazenda Penedo possui 44 alqueires.

Os Araújo estão investindo para transformar a Fazenda Penedo em “day use”, ou seja, as pessoas alugam a propriedade para passar um dia, podendo fazer um churrasco, percorrer trilhas, enfim, vivenciar uma experiência em uma fazenda histórica. Os Araújo são os primeiros a tomar essa iniciativa.

Segundo informações do ex-secretário de cultura e historiador, Edson Felipe Machado, em Duas Barras, de um total de 77 fazendas, existem 25 históricas. Vamos torcer para que os proprietários das fazendas do período do império sigam o exemplo dos Araújo e nos permitam conhecer a história de nossa região.

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    Sede antiga da Fazenda Penedo construída em 1881. Atualmente somente existe o prédio à esquerda

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    José Araújo de Barros, colono portugues adquiriu a Fazenda Penedo dos Monnerat

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    Na casa-sede, a sala de visitas possui uma decoração mais requintada em relação aos demais cômodos

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    Os Araújo estão investindo para transformar a Fazenda Penedo em Day Use

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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