Derrubando estátuas em Nova Friburgo

sábado, 31 de julho de 2010

A revolução de 1930 surgiu para derrubar a República Velha, cujo poder político se concentrava nas mãos das oligarquias estaduais, que tinham como base aliada local a figura dos coronéis. Em Nova Friburgo, Galdino do Vale Filho defendia essa oligarquia e quando a Revolução de 1930 eclodiu, ele foi perseguido por Getúlio Vargas. Saiu de Friburgo e se exilou fora do país. Yolanda Brugnolo Lívio Barilari Bizi Cavalieri d´Oro, nascida em Friburgo em 1922, relata em suas memórias esse momento histórico, vivido em sua infância, e assim escreveu: “...papai era legalista, Tio Dante, revolucionário. Papai era brigão por política, ele que era tão manso em casa. Tio Dante era ousado, dramático, não media conseqüências.(...) Quando a revolução triunfou, fomos para a Praça [refere-se à Getúlio Vargas] ver a chegada dos vencedores trazidos no trem. Estava todo mundo na rua, se acotovelando para ver melhor. De repente, atrás de nós, uma mulata começou a falar mal do Washington Luiz. Papai se voltou como uma fera e foi um caso sério evitar que ele desse uns tapas na mulata. Lá pelas tantas o povo resolveu destruir a estátua do líder político de Nova Friburgo, o sr. Galdino do Vale. Ele, que fora sempre venerado por todos, era agora, na fúria da paixão política, vítima do vandalismo desenfreado, comum nessas ocasiões. Quando a estátua rolou do pedestal, apareceu meu tio Dante, mancando e carregando uma bandeira vermelha [símbolo do galdinismo] que colocou triunfalmente no monumento decepado. Palmas delirantes da multidão. Acho que aquele foi o grande dia do meu pobre e aloucado Tio Dante...”. O povo de Nova Friburgo gostava de destruir estátuas no passado. Na Praça Dermeval Barbosa Moreira, antiga Princesa Isabel, havia um monumento comemorativo erguido em homenagem ao centenário do município. A estátua era a representação de uma colona suíça segurando em seu colo um bebê. Um grupo de gaiatos roubou a estátua da colona suíça e afixou no local um cartaz com o seguinte dizer: “Cadê mamãe?”.

Aproveito a ocasião desse episódio da Revolução de 1930 em Friburgo para esclarecer sobre a localização da cadeia na antiga propriedade – o solar – do Barão de Nova Friburgo, situado na Praça Getúlio Vargas. Na Revolução de 1930, muitos indivíduos que eram partidários de Galdino do Vale Filho, os galdinistas, a exemplo da família Spinelli e dos Lívio, ficaram custodiados no porão daquele prédio, que serviu de prisão. O “porão” do Centro de Arte é reconhecido como uma antiga cadeia, mas na realidade, todo o rés do chão, ou seja, toda a extensão do porão do solar se transformara em setor de custódia de presos. Como a Prefeitura Municipal funcionava no solar do barão, foi sempre uma constante em nossa história que a cadeia ficasse próxima a administração municipal. Não devemos nos esquecer que os juízes ordinários outrora compunham a Câmara Municipal. No século XIX, o antigo prédio da cadeia se localizava onde hoje passa a Rua Monte Líbano e denominavam-na de Rua da Cadeia. Com o passar dos anos, a cadeia pública foi sendo itinerante, funcionando em diversos lugares até que se instalou definitivamente na Vila Amélia. E já que estamos falando em itinerância da cadeia pública em Nova Friburgo, já não era hora da cadeia ir para outro local e o casarão histórico onde funciona atualmente ser devolvido à população como um lugar de memória?

Janaína Botelho é autora do livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX. Para ler as matérias anteriores acesse historiadefriburgo.blogspot.com

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História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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