De veranista à era industrial

sábado, 16 de maio de 2015

Na semana do aniversário de Nova Friburgo, a historiadora Janaína Botelho publica detalhes da história do município, desde a sua fundação, há 197 anos, até os dias atuais. Na penúltima parte desta série especial a pedido de A VOZ DA SERRA, ela destaca  o início da era industrial na cidade. Confira.

-

Na virada do século XIX para o seguinte, Nova Friburgo era simplesmente uma cidade veranista. Perdera extensas áreas territoriais, duas de suas principais freguesias produtoras de café, como Paquequer, que passou a ser o município de Sumidouro e São José do Ribeirão, que passou a pertencer a Bom Jardim. Retomou em 1911 a região de Amparo, que foi o celeiro agrícola do estado do Rio de Janeiro, cuja posição é atualmente exercida pelo distrito do Campo do Coelho. Com a maior parte de sua população residindo na área rural, Nova Friburgo era bela, a cidade dos cravos rubros, das camélias brancas, fascinante, sem atavios, na beleza encantadora de sua simplicidade. Os passeios, o footing, eram feitos nas duas principais praças: a Praça do Suspiro e a Praça Quinze de Novembro, atual Getúlio Vargas, com a sua suntuosa catedral dos eucaliptos. Mas igualmente o footing ocorria na Avenida Friburgo, atual Galdino do Valle, onde emergiam lindos palacetes dos quais somente nos restam as fotografias. Contudo, plantações isoladas com roças de milho e feijão ainda poderiam ser avistadas e Nova Friburgo tinha lá os seus bas fonds no centro da cidade, onde residia uma população miserável. 

Mesmo com o saneamento realizado por Oswaldo Cruz e a melhoria urbana feita por Pereira Passos no Rio de Janeiro, os cariocas ainda veraneavam por meses em Nova Friburgo. Faziam-se passeios pelos arredores da cidade como o Tingly, o Parque da Cascata, Sans Souci, Amparo, Chácara do Paraíso, Granja Spinelli, entre outros. O Tingly era um pitoresco arrabalde com magníficas chácaras de flores e caquizeiros. Os pêssegos do Sítio Santa Elisa, de Raul Sertã, doces e suculentos, eram os mais desejados. A bicicleta era o mais importante veículo de locomoção, sem distinção de classe, sexo e idade. Na chegada do trem na estação do Centro a população corria pressurosa para saber quem chegava. O país estimula a vinda de italianos, portugueses, espanhóis, árabes, entre outros, e Nova Friburgo atrai muitos desses imigrantes que fomentam o seu comércio e o setor de serviços. Empresários alemães igualmente sentem-se atraídos pela veranista Nova Friburgo. Entre 1911 e 1945, indústrias do setor têxtil e metalúrgico se instalam colocando-a na Era industrial. Paulatinamente o núcleo urbano vai crescendo devido às ofertas de empregos oferecidas pelas indústrias, promovendo a evasão da região rural. A decadência da lavoura cafeeira de Cantagalo e de outros municípios acarreta a migração da população dessas regiões para Nova Friburgo e acelera o seu crescimento urbano. Nova Friburgo chega aos 197 anos com seus outrora suntuosos palacetes substituídos por prédios residenciais. Os bucólicos arredores com remotos resquícios de seus caquizais e, notadamente, sem o saudoso apito do trem. Em um funesto dia despertamos com uma força policial militar dando suporte à derrubada de nossa canônica catedral dos eucaliptos. Parabéns Nova Friburgo pelo seu aniversário!

 

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.