Colégio Modelo: história e memória - Última parte

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A Revolução de 1930 teve forte repercussão em Nova Friburgo devido a três fatores: proximidade com o Rio de Janeiro, então capital do país, palco dos acontecimentos; pela sua estreita relação com o estado de Minas Gerais, que remonta desde a fundação da vila e o fato de residir em Nova Friburgo um membro aparentado da elite política mineira: José Galeano das Neves.

Essa família fazia oposição política ao legalista Galdino do Vale Filho. José Galeano das Neves  era filho do coronel Chon Chone, neto do coronel Galeano das Neves, homens de prol que participaram da vida política do município desde o século 19. Eram originários de São João Del Rei, do tronco familiar de Tancredo Neves.

O fato de Nova Friburgo possuir uma ligação política com Minas Gerais colocava o município como aliado natural desse estado, e consequentemente contra os paulistas. Só para recordar, mineiros e paulistas se revezavam no governo do país na política do café com leite.    Quando os paulistas se recusaram a passar o governo aos mineiros, como vinham fazendo alternadamente, a revolução eclodiu. Em Nova Friburgo, Galdino do Vale Filho, político importante, apoiava o lado governista da República Velha.

Qual foi o papel de Carlos Cortes, educador e professor do Colégio Modelo nesse cenário? Cortes, apoiando os revolucionários, teria trazido uma base do Tiro de Guerra para Nova Friburgo, já imaginando a sua utilidade numa revolução que se aproximava: a Revolução de 1930.

O Tiro de Guerra 24 foi inaugurado em 13 de dezembro de 1927, utilizando as instalações do Colégio Modelo, que na ocasião funcionava na Rua Leuenroth, no hotel alugado de mesmo nome. Cortes presidiu o Tiro de Guerra durante vários anos e o curioso é o uniforme dos alunos do Colégio Modelo que remete a instituição militar do Tiro de Guerra.       Lutaria nessa revolução contra o governista Galdino do Vale Filho, ao lado de José Galeano das Neves. De acordo com a memória familiar teria se apropriado das armas do Tiro de Guerra de Nova Friburgo durante a revolução. Na ocasião, residia foragido em Nova Friburgo, Brasiliano Americano Freire, oficial do Exército afastado por ter tomado parte no levante de 1922.

É provável ter sido professor no Colégio Modelo, pois tinha amizade com Cortes. Foi o capitão Americano Freire quem cuidou da logística militar no município. A linha férrea, passando por Sumidouro e Carmo e seguindo até o estado de Minas Gerais, facilitou o acesso de governistas e revolucionários para lutarem na fronteira desse estado.

Quando Carlos Cortes transferiu o Colégio Modelo para Nova Friburgo, os filhos dos fazendeiros do Centro-Norte fluminense que estudavam em seu estabelecimento de ensino, em Cordeiro, seguiram o professor. Estudavam em regime de internato quando ainda funcionava o Hotel Leuenroth.

Há passagens curiosas na Revolução de 1930 envolvendo o casal de professores. Sua esposa, Zélia Cortes, teria colocado furtivamente todos os alunos internos, filhos desses fazendeiros, no trem e levado para Cordeiro, pois estavam na iminência de serem recrutados para lutarem ao lado das forças legalistas.

De acordo com a família, quando a revolução triunfou, Carlos Cortes teria rendido vários soldados das forças do governo. Entre eles, vários de seus alunos que choravam copiosamente temendo por suas vidas. Cortes os tranquilizou dizendo que nada de mal lhes aconteceria.

Sucedeu Carlos Cortes na direção do colégio seu filho Messias de Moraes Teixeira, que como o pai, ingressou na carreira política, sendo deputado pelo estado. Seus netos João Carlos e Renato Teixeira igualmente herdaram a veia política do avô.

Participaram ativamente do parlamento estudantil, que congregava estudantes de segundo grau do município. Foram muito perseguidos durante o regime militar no golpe de 1964. A neta de Cortes, Regina Teixeira, é quem dirige atualmente o colégio.

Visitando suas instalações, percebemos que se conserva boa parte do seu antigo mobiliário na direção e sala dos professores. Nas paredes, a memória dos timoneiros de uma família de educadores, que há três gerações, se ocupam da formação de milhares de friburguenses.

Três colégios homenageiam essa família em Nova Friburgo: Colégio Estadual Carlos Cortes, no Catarcione; Zélia dos Santos Cortes, na Vila Amélia; Escola Municipal Messias de Moraes Teixeira, em Olaria e a creche Conceição Léa Cortes Moraes Teixeira, na Rua Ernesto Tessarolo. Homenagem merecida!

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    Alunos do Colégio Modelo na Fonte do Suspiro

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    Carlos e Zélia Cortes com os filhos

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    Cortes, primeiro da fila, de pernas semi abertas, presidiu o Tiro de Guerra durante anos e o curioso é o uniforme dos alunos do Colégio Modelo que remete a instituição militar do Tiro de Guerra

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    Sucedeu Carlos Cortes na direção do colégio seu filho Messias de Moraes Teixeira, ao centro, virado de lado, que como o pai, ingressou na carreira política, sendo deputado pelo estado

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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