Alto dos Schwenck

quinta-feira, 09 de fevereiro de 2017
Foto de capa
A casa-sede da fazenda dos Schwenck, do século 19 (Fotos: Acervo Janaína Botelho)

Amparo, Alto dos Schwenck. Foi para lá que colonos suíços e alemães se dirigiram no século 19. Fazia parte de São José do Ribeirão, freguesia mais importante de Nova Friburgo do ponto de vista econômico. Terras férteis para o plantio de café, frutas e verduras. Até meados do século 20, foi o distrito agrícola mais produtivo do município, o celeiro do Rio de Janeiro. Mas Amparo encontra-se esquecido há décadas por sucessivos governos municipais no que tange a infraestrutura, como a melhoria de suas estradas. Atualmente sua produção agrícola é inexpressiva e se restringe a pequenos agricultores que têm dificuldade de escoamento de sua lavoura, pois as estradas estão em péssimas condições de trânsito, causando-lhes prejuízos. Mas um dos fatores que provocou a evasão de Amparo foi a oferta de emprego nas indústrias, sendo mais atraentes do que o trabalho no campo. Já os filhos de agricultores mais prósperos optaram pelo curso superior, se formando médicos, veterinários, entre outras profissões liberais.

Percorrendo esse lugar esquecido de Nova Friburgo encontramos verdadeiras preciosidades. O Alto dos Schwenck é como um túnel do tempo. Toda aquela região pertencia aos Schwenck, daí o nome da localidade. Avistamos ali uma linda capela e a casa-sede da fazenda dos Schwenck, do século 19. Outra preciosidade é encontrar o Sr. Vanderley Schwenck, com 83 anos, montado em um cavalo como seus antepassados. Ele surpreendentemente conversando comigo usa o termo sesmaria quando se refere às terras de sua família, uma palavra utilizada no Brasil Colônia e Império para se referir às fazendas. Além de Amparo, os Schwenck também foram para o distrito do Campo do Coelho, para as Terras Frias, como se dizia outrora. O interessante é que o senhor Vanderley se identificou como descendente de colonos suíços de língua alemã. Essa confusão se deve porque na Suíça uma parte da população fala o francês e outra parte, que é a maioria, fala o alemão, além de uma minoria que fala o italiano e alguns dialetos. Essa mistura de origens confunde as pessoas e a mim também, que achava até então que os Schwenck eram colonos suíços do lado alemão. No entanto, fui pesquisar no blog do genealogista Cesar Raibert e constatei que os Schwenck, assim como os Grieb, ou Gripp, que se dirigiram para Amparo no século 19, são famílias provenientes de Hessen, na Alemanha.

A seguir, fui até a casa-sede dos Schwenck. Logo na entrada, retratos nas paredes com a memória de seus antigos moradores. A casa-sede encontra-se bem conservada, com poucas interferências, a exemplo de um banheiro. Até as primeiras décadas do século vinte, as residências não tinham banheiro. As pessoas faziam suas necessidades no quintal, geralmente sobre um córrego de água corrente. Já dentro de casa urinavam no penico. Entrevistei a simpática proprietária Miriam Schwenck que falou sobre a história de sua família. Os Schwenck se casaram com os Schneider e os Heckert. Os casamentos entre famílias colonas alemãs eram muito comuns, assim como ocorreu entre os suíços. No quintal, um forno de barro para fazer broa de milho e um fogão a lenha onde o pai de Miriam fazia melado, rapadura, goiabada e pessegada.

A broa de milho se faz da mesma maneira que outros distritos rurais de Nova Friburgo. Além da fubá e outros ingredientes básicos como açúcar, ovos e leite, leva legumes crus ralados a exemplo de cará, inhame, chuchu, aipim e batata doce. Nas paredes da casa, a memória: uma escumadeira usada no tacho do fogão de lenha e sapatilhas usadas para montar a cavalo. Na sala, usadas como peça de decoração, duas pedras graníticas do moinho que moía o milho para fazer o fubá e a canjiquinha. Depois da descoberta dessa casa-sede do século 19, no Alto dos Schwenck, percebi como Nova Friburgo ainda possui importantes patrimônios históricos.   

  • Foto da galeria

    Sr. Vanderley Schwenck, com 83 anos, montado em um cavalo como seus antepassados

  • Foto da galeria

    Metade do morro, sem vegetação foi outrora plantação de café dos Schwenck

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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