200 anos: passando a limpo a História

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Em Nova Friburgo, existem diversos erros sobre a sua história ou mesmo problemas de interpretação que merecem ser esclarecidos. Inicialmente, a data de celebração de seu aniversário. De fato, deveria ter como marco inicial o dia 03 de janeiro de 1820, e não, 16 de maio de 1818. A data do decreto real que cria a Colônia de Suíços na Fazenda do Morro Queimado, no distrito de Cantagalo, tornando-a Freguesia de São João Batista é 03 de janeiro de 1820. Para tanto, o território foi desmembrado de Cantagalo, do qual fazia parte. Logo em seguida outras sesmarias, ou seja, fazendas, foram adquiridas para integrar a circunscrição territorial de Nova Friburgo. A data de 16 de maio de 1818 foi a assinatura do decreto autorizando a vinda dos suíços e estabelecendo as condições da imigração. Na proximidade do centenário da cidade, algum cidadão resolveu antecipar a comemoração contando a partir de 1818, e não da fundação oficial, em 1820, quando ocorreu o estabelecimento da Câmara Municipal. 

Consequentemente, o mês de maio passou a ser o das celebrações do aniversário da cidade e não janeiro, como deveria. Alguém questionou esse equívoco quando o município de Nova Friburgo celebrava seu 150° aniversário e foi um quiproquó na cidade. Ocorreram rusgas e divergências entre diversos segmentos da sociedade e o Instituto Histórico e Geográfico foi indicado para julgar a questão. Foi decidido por esse eminente órgão que, de acordo com a documentação histórica, o município deveria celebrar sua fundação a partir de 03 de janeiro de 1820. De nada adiantou a decisão desse órgão. Continuamos a celebrar o aniversário no mês de maio e o bicentenário tendo por termo inicial o ano de 1818, quando da assinatura do decreto. Um erro histórico! Outro equívoco é o morro do Cão Sentado representando o município. Todas as litografias que retratam a vila de Nova Friburgo no século 19 têm como referência as montanhas Duas Pedras, que deram nome a Fazenda do Morro Queimado. O vulgo a denominava queimada em razão de sua cor tisnada, acinzentada. Aproximadamente na década de 1960, algum cidadão resolveu usar o morro com a forma de um cachorro, visto apenas de certo ângulo, como símbolo da cidade e assim ficou. Em minha opinião, o morro do Cão Sentado não representa a nossa história!

Vamos ao terceiro erro: Festa do Colonizador e Cidade das Colônias. O Nova Friburgo Country Club criou a Festa do Colonizador para celebrar a imigração suíça e alemã. No entanto, ambos vieram como colonos. Colonizador foi o português! A outra denominação Cidade das Colônias não é aceita por alguns representantes, a exemplo do Movimento Negro e da comunidade alemã. Os afrodescendentes não vieram como colonos, e sim como escravos. Apenas suíços e alemães vieram como colonos para Nova Friburgo. Os italianos, portugueses, espanhóis e árabes vieram como imigrantes para a cidade serrana. Já em municípios próximos os três primeiros trabalharam como colonos nas fazendas, substituindo a mão de obra escrava. Sei que é antipático o que vou dizer, mas incluir húngaros no panteão das colônias é forçar uma barra. Foram tão raros e quase nada se pode dizer deles na formação social do município. Os japoneses vieram em pequeno número, mas podemos contar uma história sobre eles e sua influência na atividade agrícola do município.

Outra confusão que se faz é com relação aos alemães. Em 1824, vieram três centenas deles trabalhar como colonos na agricultura provenientes de diversos burgos, pois a Alemanha ainda não era unificada. Já os alemães que colocaram Nova Friburgo na Era Industrial foram outros. Eram empresários que vieram de uma imigração espontânea para Nova Friburgo na primeira década do século 20.  Resumindo, vieram em uma situação e circunstância totalmente diferente dos primeiros e muitas décadas depois. Outra discussão é a Câmara Municipal dar a maior comenda aos cidadãos que se destacam na sociedade com o título de Barão de Nova Friburgo. Por mais que possamos nos regozijar do patrimônio histórico e benefícios, a exemplo da linha férrea, trazidos pela família Clemente Pinto a Nova Friburgo, uma comenda com o seu nome é uma provocação. Afinal, sua fortuna veio do trabalho escravo. Não devemos jamais esquecer! Ficam reflexões sobre algumas questões da história de Nova Friburgo.  

  • Foto da galeria

    Comemoração do centenário de Nova Friburgo (Fotos: Cortesia Janaína Botelho)

  • Foto da galeria

    Festa do Colonizador, um equívoco do Country Clube

  • Foto da galeria

    Evento de colonos e imigrantes em um shopping da cidade

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.