Quatro perfis de escola - A escola protetora (Última parte)

quarta-feira, 06 de setembro de 2017

As estruturas familiares e escolares têm a impressão que a proteção faz parte do cardápio educacional e dá garantias de êxito, sobretudo diante de um mundo violento em que vivemos.

As escolas precisam ter seus sistemas de segurança para proteger seus alunos contanto que não inventem desculpas quaisquer para mandá-los de volta para casa deixando-os à mercê de qualquer traficante pelas ruas da cidade. Proteger é uma atitude muito ampla e não pode ser observada somente de um ponto de vista linear. A questão é complexa.

A função da educação é libertar a pessoa e, portanto, quando ela agir impedindo que o educando cresça, estará atrapalhando essa libertação.

Existem escolas e famílias que se “matam” fazendo tudo para os alunos e para os filhos e não sabem por que recebem em troca o desprezo e uma atitude correspondente à música, hoje popular: “to nem aí”.

A referência à proteção em nada significa ausência de carinho e afeto que todos nós necessitamos. Estes dois elementos não atrapalham a libertação, pelo contrário, são capazes de aumentar a segurança quando presentes.

O que atrapalha a educação quanto ao aspecto protetor é fazer o que o educando poderia fazer por si mesmo. A independência futura, quando a pessoa sair de casa para trabalhar ou para estudar e até mesmo para formar outro lar, não deveria ser impulsiva, assumindo a pessoa todas as responsabilidades de uma só vez.

A principal característica da libertação do ser humano e o seu encontro com a autonomia se dá num processo em que as responsabilidades vão sendo assumidas gradativamente. Quando há um impedimento porque a escola ou a família deseja que no presente não haja problema, dado que, no futuro, certamente irão sofrer com a vida, não estarão de fato, proporcionando uma vida futura segura. A falta de libertação e este assumir gradativo de responsabilidades impedirão a chegada ao patamar da autonomia e, em consequência, estará criada uma situação que facilitará muito mais o sofrimento pela falta de experiência.

A experiência, se não for gradativa, virá a “fórceps”, podendo deixar sequelas pela vida toda.

Resta saber quando o educando dará valor ao esforço da escola ou da família. Se ele sentir-se crescendo, dará valor, mais cedo ou mais tarde. Se não houver este crescimento, o desprezo será o caminho mais curto das considerações.

O pulso forte funciona contanto que não se abandone a ideia da existência, sempre presente, de um coração que ama.

Quando um professor pensa por um aluno, este está sendo pensado por alguém. Quando tal fato ocorre por força da estrutura escolar ou familiar, ele estará sendo pensado por uma estrutura.

Ser pensado... cria dependência e, a dependência é geradora de frustração e de cobrança em futuro próximo.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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