Práxis e aprendizagem nas escolas e universidades - Parte 1

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Se temos mais de noventa e sete por cento de crianças nas escolas brasileiras e muitas delas não aprendem a ler e escrever, perguntamos: por que não aprendem, se as escolas foram feitas para ensinar e os alunos, aprender?

Quando levamos este problema para as escolas, a culpa é jogada sempre sobre os alunos, acusados de desmotivados e que vivem criando problemas disciplinares.

 Mas, na verdade, as crianças não aprendem por uma série de razões: a primeira delas é que a criança vai à escola para entender, não para aprender. Na escola ela entende. O melhor professor do mundo consegue fazer a criança entender um assunto. Se esta criança, em seguida, não fizer a fixação deste assunto, o que só pode ser feito mediante exercícios, ela não aprenderá. Isto ocorre porque o que se ouve na escola fica guardado na memória de trabalho também conhecida como memória de curta duração. Esta memória está localizada numa parte do cérebro humano chamado cérebro límbico. Se a criança não fixa o que estudou através de exercícios, quando esta criança dormir, o cérebro se encarregará de jogar tudo na lata do lixo. Ela acordará no dia seguinte e nada saberá. Portanto, não terá aprendido; uma segunda razão é que as crianças não são orientadas para saber estudar. Se alguém a ensina em casa ou faz os exercícios no lugar dela, será esta pessoa que marcará os assuntos nesta memória de curta duração. A conclusão é que a criança continuará sem condições de transferir o que entendeu na escola para a memória de longa duração. A memória de longa duração localiza-se na parte de nosso cérebro que mais se desenvolveu nos últimos três milhões de anos. Aprender significa ser capaz de transferir o que ouviu, da memória de curta duração para a memória de longa duração.

Então, como isso se processa dentro de nosso cérebro? Muito simples: se a criança assistir às aulas e entendê-las, fazendo depois alguns exercícios, ela deixará alguns assuntos marcados na memória de curta duração. Em seguida a criança precisa dormir uma boa noite de sono. Isto quer dizer que ela precisa dormir por oito horas, no mínimo. Durante este sono ela recuperará as energias enquanto os neurônios darão um grande passeio pelo cérebro. Quando os neurônios encontrarem alguma coisa fixada na memória de curta duração, levarão este conteúdo para a memória de longa que se localiza em nosso cérebro e se chama “córtex cerebral”. Aí, sim, a criança aprendeu.

Como se vê, o ser humano aprende se, em primeiro lugar, entender; em segundo, exercitar-se e, em terceiro, dormir.

Portanto a educação de uma criança não pode ser entregue somente à escola. A família precisa atuar, junto com a escola, para cuidar do tempo em que as crianças precisam fazer exercícios passados pelo professor e, depois, verificar se a criança dorme bem. Criança que fica diante da televisão até a madrugada, mesmo que tenha feito os deveres de casa, não terá condições de aprender.

Nós não podemos jogar a culpa do não aprendizado das crianças sobre as escolas, somente. Nós precisamos analisar se as aulas são bem ministradas, se as crianças são orientadas para fazer exercícios e se as famílias cuidam do sono de seus filhos.

Portanto, muito cuidado quando você atirar a pedra!

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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