O profissional da educação e a leitura do mundo – parte 3

terça-feira, 19 de abril de 2016

Vamos viajar um pouco porque leitura é viagem. Vamos visitar uma aldeia de Australopitecus afarensis. Eles foram os primeiros a se colocar de pé, a preparar ferramentas e Luci é seu símbolo. Já se percebia um cérebro complexo. Como as crianças não seriam capazes de sobreviver, uma estrutura de famílias se aglomerava para atingir este objetivo. Por isso percebemos que os humanos, mesmo sendo cada um elemento verdadeiramente singular, na visão de Bourdier, continuava dependente de seu grupo.

Hoje de modo mais claro e menos conflitante superamos René Descartes e Isaac Newton diante das visões de separação e ligações das coisas, pessoas e sistemas. Immanuel Kant já vislumbrou que sujeito e objeto interagem entre si e a física quântica percebeu que, de fato, tudo está ligado a tudo.

Assim, desde os Australopitecus até Einstein o que aconteceu com o livro? Se buscarmos inspiração em Harold Morowitz que afirma “a vida é uma propriedade dos planetas, e não dos organismos individuais”, percebemos que o livro, depois do advento da imprensa, deixou de ser pensado como um elemento paradigmático e isolado do contexto histórico e humano e passou a ser considerado dentro da complexidade que envolve o ser nesse caótico estruturado em que vivemos.

Ora, se considerarmos a leitura dos clássicos da literatura como alguma coisa distante da realidade dos alunos e projetarmos esses valores dentro de uma classe de adolescentes, destacando a obra como um paradigma isolado do contexto, sobretudo do contexto deles, só a obrigatoriedade os levará a ler. Quando houver o desaparecimento dessa obrigatoriedade a leitura desaparecerá.

Por isso, quando se leva à leitura de um autor é preciso considerar seu contexto. Tornar-se-á mais atraente a leitura de Jorge Amado, se houver uma visão interdisciplinar entre a língua nacional, a história e a geografia do nordeste brasileiro. O que for estudado em história e geografia do nordeste será constatado na obra literária de Amado, podendo-se aproveitar essa oportunidade para mostrar que a sintonia entre as disciplinas será uma realidade possível e poderá estender-se às artes, às ciências e à matemática.

No momento em que conseguirmos fazer a ligação entre a obra, seu autor e o contexto, tudo ganhará outra cor e outro significado, podendo despertar um gosto especial pelo que vier a ser lido. Esta ação espetacular desenvolvida em sala de aula caberá ao professor ou professora que aceite a existência de ligações no mundo dos humanos. Como os elementos da natureza também dependem de ligações. Basta partir da molécula da água.

Portanto, o grande segredo de uma prática de leitura que chame a atenção dos leitores é trabalhar as relações dela com os próprios leitores. Trata-se de contextualizar a leitura. É uma expressão de Toenders e Kobus que o “novo papel do professor é ser facilitador, isto é, alguém que cria as condições e organiza os processos de aprendizagem”. Cabe ao professor criar as mesmas condições em relação às leituras dos seus alunos.

Continua na edição da próxima quarta-feira, 27.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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