O profissional da educação e a leitura do mundo – Parte 1

quinta-feira, 07 de abril de 2016

Foi-se o tempo em que o livro era coisa rara. Ele está, hoje, em todas partes e com edições multiplicadas. Os lançamentos ocupam o espaço da mídia e esperam horários significativos para o início das vendas como ocorre com Harry Potter em várias de suas edições.

No passado as escolas exigiam a leitura dos “clássicos” da literatura, inclusive com o argumento que seria a oportunidade única para ler esses autores, pois, mais tarde, dificilmente os jovens estudantes passariam por eles. Esta visão pode ser analisada por dois aspectos: o primeiro, de que os autores consagrados numa determinada literatura precisam merecer atenção de todos como forma de se escrever bem.

Entende-se, portanto, que a escrita de um autor moderno deva ser forjada também em contato com os clássicos daquela língua; o segundo, de que os autores consagrados são tão fora de época e, por isso mesmo, enfadonhos, que só a obrigatoriedade escolar seria aquela capaz de levá-los aos alunos como leitura obrigatória.

Podemos, ainda, desenvolver o pensamento sobre uma leitura voltada para a elite e uma leitura popular. Geralmente os “clássicos” da literatura são digeridos mais facilmente pelas elites, por outro lado eles trabalham o aspecto mais correto da língua e o rigor gramático, coisa não muito segura em autores iniciantes ou ainda não consagrados.

O propósito da escola em relação aos alunos é proporcionar uma leitura capaz de despertar nos leitores o gosto por ela mesma e a certeza da correção daquilo que ali está escrito.

A leitura está inserida no contexto da comunicação humana, como a fala, as imagens e os números. Quem não usa o meio comum de comunicação acaba por ser um analfabeto daquele tempo histórico.

Nossa imaginação pode avaliar como seriam os analfabetos percussionais que não entendiam os sinais dos tambores entre as tribos que nada escreviam. Os leitores, agora, podem buscar um nome para os analfabetos que não compreendiam os sinais de fumaça, depois para os que viveram no tempo da escrita cuneiforme, seguida da hieroglífica até o analfabetismo digital de nossos dias.

Afirmo que o significado da leitura continua o mesmo: inserir-se na complexidade da história humana, compreender o seu tempo além de outros tempos históricos, comunicar-se para receber e enviar mensagens que promovam maior solidariedade e paz.

Assim sendo quem não lê não compreende o mundo, acabando por não pensar e, nós sabemos que “quem não pensa é pensado por alguém ou por uma estrutura”.

Continua na edição da próxima quarta-feira, 13.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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