500 anos da Reforma Protestante - João Calvino e a latinização do protestantismo (Parte 5)

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Max Weber afirma que o pai do capitalismo ocidental não foi Adam Schimidt e, sim, João Calvino. Filho de um advogado suíço, radicado em Genebra, Calvino como mais popularmente ficou conhecido, funda uma religião com base nos ensinamentos de Lutero e busca um viés prático de “batismo” do lucro. O comércio, a busca do lucro, fruto do trabalho, fará parte da doutrina da predestinação propalada por João Calvino. “Se uma pessoa nasceu para ser salva, será para esta vida e para a outra vida; o ser humano nasce predestinado por Deus para ser salvo ou condenado”. Portanto, se alguém estiver vivendo na miséria, padecendo horrores nesta vida, do ponto de vista católico, estaria padecendo aqui para conseguir a vida plena e eterna junto a Deus, na outra vida; sob o ponto de vista da predestinação, este ser humano nascera predestinado a viver assim, carente nesta e na vida futura. Daí uma questão dogmática entre os protestantes daquela época que atinge ainda algumas Igrejas Reformadas: “a fé é que salva”! Nesse sentido, contrasta esta doutrina com aquela defendida pela Igreja Católica que acrescenta as obras como meio de buscar a salvação.

Um calvinista era instado a trabalhar e prosperar e neste ponto instala-se a teologia da prosperidade, provavelmente mais divulgada pela Igreja Universal do Reino de Deus em nossos dias. Quanto mais ele prospera, mais dízimo ele paga e vice-versa. Se analisarmos sob a ótica do livro Teatro, Templo e Mercado, de Leonildo Silveira Campos, Editora Vozes, verificaremos a culminância do marketing dos empreendimentos religiosos neopentecostais, braço moderno do protestantismo, cuja origem está em Calvino.

Vivendo em Genebra, Calvino funda uma empresa financeira para amparar empreendimentos dos protestantes. A Igreja Católica nesta época ainda condenava o lucro, identificava as atividades comerciais como sendo vis e defendia um sistema feudal. O mundo entrava em sua revolução comercial, as navegações ganhavam força e espaço, muitas terras e continentes eram descobertos e apossados em nome dos reis europeus e, agora, para facilitar todo este contexto, surgia uma religião que batizava e abençoava o lucro. Nada melhor para que a doutrina protestante e calvinista prosperasse.

Orientava, Calvino, que todo seguidor seu deveria ter uma pequena oficina em sua casa. Trabalhar com as mãos, fazer experiências, enfim, ser empreendedor. É neste sentido que Max Weber considera Calvino o verdadeiro pai do capitalismo moderno.

Também considerado o latinizador do protestantismo por tirá-lo de uma perspectiva fechada no mundo germânico, a França passa a ser palco de um grupo de ação protestante que se denominou “Huguenotes”. Assim eram chamados os protestantes franceses. Todos eram seguidores de Calvino. Huguenote é uma palavra de origem holandesa “huguenossen” que significa “cochichar”. Muitos desses protestantes saiam às ruas lendo salmos e textos bíblicos, revezando-se na leitura. Tal prática, feita em voz baixa, dava a impressão de um cochicho. Daí huguenossen e huguenotes.

As principais guerras de religião na França caracterizaram-se como embates militares entre católicos e huguenotes. Os bispos e cardeais da Igreja Católica não só estavam envolvidos com a política mas com as artes militares. Armand Jean duPléssis, cardeal de Richelieu, em armadura militar comandou exércitos para a tomada da fortaleza de La Rochelle que estava dominada pelos huguenotes. Nas guerras francesas o Cardeal de Guise, o Duque de Guise, dentre outros, formavam a liderança militar católica, enquanto Villegagnon, seguidor do Almirante Coligny, liderava os huguenotes.

De acordo com princípios vindos da Idade Média, de buscar um reino com um rei, uma língua e uma religião, a França dos tempos modernos estava às voltas com o terceiro pilar do reino. A estratégia usada pela rainha Catarina de Médicis para manter-se no poder, dado que os católicos a aceitavam, mas os protestantes huguenotes queriam bani-la do trono, foi fornecer armas e dinheiro para o grupo mais fraco, seja ele católico ou protestante. Isto rendeu à França várias guerras religiosas, atrasou a revolução industrial francesa no início do século XVIII e ainda provocou uma revolução maior que derrubou a monarquia em 1779.

Mas, como que ainda no final do século XVI esta rainha Catarina de Médicis conseguia governar, tendo filhos homens e herdeiros? Há que se considerar que Henrique III não tinha força para o governo, era dominado pela própria mãe e tivesse amantes de ambos os sexos. Catarina, de fato, mandava e desmandava, mesmo que o rei fosse o filho, Henrique III. Foi este que, seguindo a orientação da mãe, autoriza o massacre da noite de São Bartolomeu, em agosto de 1572.

Bom, se as guerras não param porque nenhuma das partes envolvidas consegue ter o rei ou rainha de seus desejos, surgirá um outro rei na França, Henrique IV. Este usa outra estratégia, ele é que mudava de lado ou de religião. Se os católicos estavam vencendo, ele era um rei católico; se os huguenotes passavam a ganhar terreno, ele se convertia aos huguenotes. Era um rei francês, típico para a época: grosso, detestava banho, recolheu a própria mãe a um convento – nome acolhedor para uma prisão discreta – e recebeu dos franceses comentários do tipo: o rei tem o cheiro de um bode velho! E tudo isso terá importância até com a história do Brasil.

TAGS:

Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.