Mistérios da natureza

quarta-feira, 07 de junho de 2017

É sabido que a convivência, aliada a fatores climáticos e a certas conjunções de astros e estrelas, pode produzir esses fenômenos fisionômicos

Vocês devem ter visto a notícia. Nos Estados Unidos, um soldado voltou do Iraque e, após 18 meses de ausência, encontrou a mulher com um novo filho no colo. A surpresa do bravo militar não chegou a tanto que abalasse o casamento. Acontece que a esposa explicou tudo direitinho, de forma irrefutável, irrecusável, perfeitamente crível e coerente.

Segundo ela mesma declarou à imprensa, tinha engravidado assistindo a filmes pornôs. Na ausência do marido, e para compensar a falta de sexo real, andou acompanhando umas tantas histórias em que o assunto era farta e explicitamente abordado. Eis senão quando, de repente, se viu grávida, fato que só podia atribuir à ardorosa impressão que lhe causaram os acontecimentos das tais obras-primas cinematográficas.

  Algumas pessoas puseram em dúvida as declarações da santa senhora, mas em geral era gente atrasada, que não está a par do grande desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da moral nos tempos modernos. Porque nada mais é impossível, tem se visto de tudo, ainda recentemente foi descoberta a existência de um político honesto em Brasília. Por aí se vê a quantas andam as coisas atualmente. Só falta agora um jumento verdadeiro ser alfabetizado, pois já existem muitos alfabetizados que são verdadeiros jumentos.

 Ademais, que importa que o mundo inteiro descreia, se o marido crê?  Segundo entendi, ele até vai registrar a criança em seu nome, posto que não foi possível identificar qual era o ator responsável (ainda que a distância e involuntariamente) pelo surgimento do bebê.

O que pode acontecer, dando às más línguas motivos para fofocar, é que a criança venha a ficar parecida com algum vizinho ou amigo do casal. Mas mesmo isso tem suas explicações. É sabido que a convivência, aliada a fatores climáticos e a certas conjunções de astros e estrelas, pode produzir esses fenômenos fisionômicos. E, notem bem, ao falar em astros e estrelas estou falando de corpos celestes, e não de artistas de cinema.

 Eu mesmo já tive ocasião de contar algures (não sei onde fica Algures, mas deve ser muito longe) um fato que presenciei na minha infância. Presenciei é modo de falar, porque na minha infância criança não presenciava nada, e se fizesse perguntas levava uns cascudos, que era para aprender a não ser abelhudo.

O fato é que uma vizinha teve um filho. Até aí, nada demais, eu sabia que as cegonhas de vez em quando deixavam uma criança numa das casas do bairro e que, enquanto esperavam a chegada da cegonha, as mulheres deixavam crescer a barriga. A relação entre as duas coisas me escapava, mas, sendo como sou, prudente desde a infância, nada perguntei.

O estranho, até para mim, tão inocente, foi a criança ter nascido com uma cara que, esse é o mistério, não era a do marido da senhora a quem a cegonha visitara (e eu soube da visita ao ver que a barriga da vizinha desaparecera). Para aumentar o mistério, a mãe deu ao bebê o nome de um amigo do casal, com o qual, aliás, a criança era bem parecida. Mas isso não passou de mera coincidência.

A conclusão a que cheguei então é semelhante ao que agora veio a provar o caso da americana que engravidou vendo filmes pornôs. As mulheres são muito impressionáveis. Se, por acaso, têm um vizinho com o qual se encontram frequentemente, ou se têm um ator que admiram muito, podem pôr o marido nessa situação desconfortável de ter um filho com a cara que não é a do pai.

Acontece. Acontece muito. Mas não ponhamos malícia nisso. São mistérios da natureza.

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Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

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