Caixa de Arnaldo Baptista com dois álbuns inéditos

sexta-feira, 15 de abril de 2016

O mercado de CDs está muito bom para os fãs d’Os Mutantes, banda brasileira fundamental por criar uma identidade nacional de rock na década de 1960. Além da caixa contendo todos os discos da formação clássica da banda em CD ter sido lançada em 2014, chegou recentemente às lojas um box em edição limitada com cinco álbuns da carreira solo de Arnaldo Baptista, o tecladista e baixista da banda que era uma das mentes por trás do grupo.

A caixinha chega trazendo uma foto de Arnaldo no âmago dos anos 1970. Cabelo quase no ombro, blusa com motivos psicodélicos e casaco de couro. Um tremendo rocker. Nas outras abas do box, desenhos com o traço artístico típico do músico que, após se recuperar do trágico dia em que se jogou de uma janela e quase morreu, começou também a se dedicar à pintura, chegando, inclusive, a fazer todo o trabalho visual do álbum O A e O Z, dos Mutantes, lançado em 1992.

Dentro da caixa estão cinco obras da carreira solo de Arnaldo, com capinhas em formato digipack. Muito distintos entre si, os discos vêm mostrar como Arnaldo conseguiu enquadrar diferentes estilos musicais após sair dos Mutantes, onde permaneceu desde a fundação do grupo, em 1966, até 1974. A caixa é uma ótima oportunidade para ter a obra do mutante em casa, inclusive porque é a primeira vez que os dois álbuns que o cantor lançou com o grupo de hard rock Patrulha do Espaço estão sendo lançados em CD.

Loki (1974) foi o primeiro a ser lançado, quando o cantor saiu dos Mutantes e estava afundado em um período de depressão, ligado à sua separação da então esposa e amiga de banda, Rita Lee. Mostrando um artista totalmente de peito aberto, gritando a plenos pulmões o que sentia nesses tempos de tristezas, arrependimentos e ressentimentos, Arnaldo se juntou aos antigos parceiros Liminha e Dinho Leme (baixo e bateria dos Mutantes, respectivamente) para gravar um disco sem guitarras, uma mistura linda de bossa nova e rock.

Elo Perdido (1977) e Faremos Uma Noitada Excelente (1979) mostram o momento mais roqueiro da carreira solo de Arnaldo. Muita influência de blues, Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath. As letras ainda misturavam suas viagens mais lisérgicas e momentos de depressão. Infelizmente, os CDs não vieram com as capas originais dos vinis, mas, mesmo assim, ainda é incrível poder ter os álbuns no formato. Outra coisa muito feliz é que, pela primeira vez, o álbum Elo Perdido veio em sua versão completa, incluindo as cinco faixas de restos de estúdio que ficaram conhecidos como o bootleg Vice-Versa. A caixa ainda traz Singin’ Alone (1982), com Arnaldo interpretando diversas canções desse período, agora de forma mais intimista e em versões diferentes; e também Let It Bed (2004), último trabalho musical do cantor onde ele tocou todos os instrumentos e experimentou efeitos eletrônicos no computador. Um registro bem legal do Arnaldo pós-trauma.

Em uma conclusão lógica, a caixa não é nenhum grande atrativo. É apenas uma luva de papel que cobre os CDs, sem muitos atrativos. Mas, como infelizmente não é possível encontrar todos esses álbuns no formato à venda, é praticamente imperativo comprar a caixa para quem quiser ter a obra do Arnaldo em casa. São cinco discos que valem a pena ter, com destaque para os dois primeiros. Com preço em torno de R$120, não pode ficar fora da estante de nenhum maníaco por Mutantes.

Foto da galeria
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