A Forma da Água

sábado, 17 de março de 2018

Um conto de fadas moderno e poderoso sobre o amor impossível

A pura magia do cinema está de volta aos cinemas. O cineasta mexicano Guillermo del Toro cria um roteiro ao lado de Vanessa Taylor para explorar mais uma vez seus monstros, sua marca registrada inserida em outros filmes. Dessa vez converge a ideia do amor impossível com a superação da xenofobia, numa trama central que se concentra na relação entre uma faxineira muda (Sally Hawkins) e um homem anfíbio (Doug Jones), oriundo da nossa Amazônia, em plena Guerra Fria no solo americano.

Situado na cidade de Baltimore sempre chuvosa de 1962, o filme é uma parte história de amor, outra como thriller da Guerra Fria e exploração da cultura americana. Os americanos conseguiram capturar um homem anfíbio, oriundo da Amazônia. Encarcerado como um animal de laboratório para ser dissecado e investigado, constantemente desqualificado como ser devido a origem latina. Enquanto isso, os russos ao saberem de tal feito querem mais detalhes. No meio do conflito político temos uma mulher muda, capaz de se simpatizar com o sofrimento do estrangeiro e a partir disso desenvolver o amor impossível.

O diretor utiliza uma câmara itinerante, nos conduz gentilmente para o ponto mais importante da cena, não no sentido de controlar as nossas emoções, apenas deseja que prestemos atenção nos elementos delicados da narrativa. Criou-se a sensação de flutuação através do filme, seus tons verdes podem simbolizar a natureza - origem do homem anfíbio - a harmonia, o frescor, e a fertilidade do casal. Sua direção fascina pelo total controle da narrativa e reconstrução de referências da televisão, música e dança. Um filme repleto de referências aos filmes clássicos, como o O Monstro da Lagoa Negra (1954), e outros da cultura pop, por exemplo: Splash - Uma Sereia em Minha Vida (1984).

Todos os atores estão maravilhosos, em especial Hawkins e Jones por interpretar dois seres que se comunicam por sinais de maneira diferente, ao mesmo tempo cativante. Não é necessário nenhuma palavra para entender o sentimento mútuo. Hawkins é toda olhos e mãos, enquanto Jones é todo pantomima. Desafiam a técnica e consegue dissolvê-la. Sem esquecer da atriz Octavia Spencer e do ator Richard Jenkins, ambos em papéis coadjuvantes e marcantes na trajetória do filme. O ator Michael Shannon desenvolve a personagem Richard Strickland, numa atuação contundente ao fazer um vilão nos moldes antigos sem deixá-lo cair na obviedade e no lugar comum, possui a complexidade de um antagonista sem a arrogância da atualidade. Apenas acredita nas suas ideologias e convicções.

A Forma da Água foi o grande vencedor do Oscar deste ano ao faturar quatro categorias, além do prêmio de Melhor Filme, o longa ganhou nas categorias Melhor Direção (Guillermo del Toro), Melhor Design de Produção ( Paul D. Austerberry, Jeffrey A. Melvin e Shane Vieau) e Melhor Trilha Sonora Original (Alexandre Desplat). O Design é primoroso, o trabalho de Austerberry transcende o comum e encanta os olhos. O cineasta é conhecido por usar o mínimo possível de efeitos digitais em seus filmes, prioriza os efeitos práticos e especiais em cena, e neste filme estão mais encantadores. A trilha sonora foi detalhadamente pensada para o filme, o autor francês, Desplat, quis inserir elementos da água para que pudéssemos imergir o tempo todo no sentimento do casal e seus rumos. Provavelmente uma das trilhas mais comovente dos últimos anos. A água é componente narrativo constante no filme, seja de maneira objetiva ou subjetiva.

A produção da Fox Searchlight investiu estimados US$ 19 milhões e arrecadou ao redor do mundo US$ 109 milhões, mas o filme retorna aos cinemas em várias cidades ao redor do mundo, inclusive a nossa querida Nova Friburgo. O faturamento vai aumentar, merecidamente.

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