Dublado ou legendado?

sábado, 08 de julho de 2017

Nesta semana, de 29 de junho a 5 de julho, os cinemas friburguenses exibiram filmes apenas em língua portuguesa, seja dublado, como os filmes americanos O Círculo, Meu Malvado Favorito 3 e Mulher-Maravilha, seja os brasileiros mesmo - Meus 15 anos e Um Tio Quase Perfeito. Essa é a primeira vez que isso acontece desde o início do nosso espaço de cinema.

Entendo que, por vezes, a construção do hábito de ir ao cinema passa pela imersão na imagem e narrativa, essa que pode ser construída mais facilmente sem a presença da legenda. Mas há um porém: a arte do cinema é concebida a partir de sua origem, dos seus hábitos e valores. Dessa maneira, os filmes se tornam um dos principais veículos para se conhecer a cultura do outro e refletir sobre a nossa, e fomos privados desse elemento cultural nesta semana. Tivemos que assistir aos filmes com a linguagem adaptada para o português sem suas especificidades locais.

Nenhum filme é concebido tendo a legenda como elemento que compõe a imagem, mas ela é um mal necessário, pois somos brasileiros e não possuímos uma segunda ou terceira língua em nossa formação escolar. Ouvir uma língua diferente da nossa agrega para a evolução cognitiva, pois começamos a fazer novas sintaxes, as relações dos componentes que integram uma frase, consequentemente aprendemos a linguagem a partir de outra lógica.

Em síntese, a mente não é uma entidade única, mas é composta de uma série de faculdades especializadas em solucionar diferentes problemas, e a linguagem é um dos principais elementos para o nosso desenvolvimento. Um sistema de órgãos computacionais que permitiram a sobrevivência e a reprodução de nossos ancestrais, e no mundo social em que passamos a maior parte de sua história evolutiva. Por isso, quanto mais contato com diferentes culturas, fazemos com que a inteligência possa ser ampliada. Logo, nossas referências de mundo são cada vez mais entendidas para além da carne e osso encaixados no contexto físico e social.

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