Vai valer a pena

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Olho para o céu. E lá vejo várias estrelas, mas apenas uma brilha mais forte. Chama a atenção, atrai os olhares. Encanta. Seria apenas mais uma na constelação, não fosse ela a mais bela. Reluz com força, enfraquece, mas não se apaga. E no silêncio da imensidão dos pensamentos, ainda atônito, é pra ela que eu pergunto: por que? Seremos realmente forçados a lembrar daqueles 45 minutos impecáveis em Porto Alegre por quanto tempo? Do passe que o Pimpão não fez, da furada do João Paulo, da bola na trave do Bruno Silva. Do pênalti não marcado no Gilson no Nilton Santos. O Botafogo não merecia. O botafoguense não merece.

Então por que? Será que já não pagamos o suficiente por tantas administrações incompetentes, corruptas e lesivas ao clube? Será que todo o amor que bancamos nesses últimos anos não seria o bastante para que pelo menos um desses lances fosse revertido em gol? Pelo menos um! Pelo menos uma tacada de sorte, que fosse, já que não fomos competentes no quesito aproveitamento, diga-se de passagem. Mas bem que aquela estrela poderia ter brilhado de forma mais intensa naquele momento.

A alma do botafoguense, já há alguns anos, é povoada por infinitas interrogações. As exclamações quase sempre remetem ao inacreditável, resultando em inúmeras reticências... Mas em 2017 realmente acreditamos no ponto final. Feliz. Não vai ser tanto. E não vai por que?

O Botafogo de hoje tinha, e o de amanhã terá a missão de corrigir um erro histórico, um desencontro de importância, prioridades e datas. Talvez nunca tenha se tratado a Libertadores como ambição neste clube, especialmente nos tempos áureos, quando a competição não tinha nem metade do peso que ganhou a partir dos anos 90. A grandeza de um clube não é determinada apenas por isso.

Quer a história que o Botafogo ainda não ostente o título da competição, uma vez que em seu auge priorizou outros campeonatos. Era o momento. Parece que participar vez ou outra sempre esteve de bom tamanho. Agora já não dá mais para pensar assim. Moralmente, comercialmente, financeiramente. Demorou – e muito -, mas parece que acordamos.

E nesse despertar observamos que o sonho da América não fica tão distante assim. É claro que o pesadelo da dor permanece por um tempo (e está demorando mais a passar do que eu imaginava). Ser eliminado de qualquer competição nunca é fácil, ainda mais daquela em que era possível conquistar. O Botafogo e o botafoguense mereciam, repito. O futebol tem uma dívida com o Glorioso, por tudo o que esse clube já fez por ele. Principalmente o futebol brasileiro.

É preciso assimilar o golpe. Entender o incompreensível, e brigar para voltar à Libertadores no próximo ano. As possibilidades são grandes. Aprender com os erros, reforçar, manter a base desse ano. E principalmente o espírito. Há anos não vemos um time com tanto brio em campo. Limitado, é verdade, e talvez por isso não conseguimos ir mais longe. O futebol acompanha a realidade do país: igualdade de condições e justiça social não passam de promessa de campanha! A disparidade entre os clubes é só mais um exemplo, mas no caso do esporte, a camisa e a história fazem superar. O Alvinegro superou.

Não dá pra colocar na conta desse time ou dessa diretoria a incompetência das gestões que passaram pelo Botafogo nos últimos 20 anos. Tampouco a guerra de interesses entre os grupos políticos que há anos faz o clube padecer. Pelo contrário. Resgatamos muita coisa boa. E por isso digo e escrevo: a dor que sentimos agora vai valer a pena. Se o botafoguense está triste é porque ele sabe que dava. E no fundo ele sente que, seguindo por este caminho, vai dar pra chegar. Em breve.

Quem cair no nosso grupo da Libertadores, em 2018, vai lamentar. Vai tremer. Vai saber o que encontrará no Nilton Santos: o Botafogo de Futebol e Regatas, o verdadeiro, um dos 12 maiores clubes de todos os tempos (FIFA). Esse é o principal legado. O que vivemos no estádio Nilton Santos em 2017 jamais vai sair das nossas memórias. Dos nossos corações. Vale muito mais do que um simples objeto, pelo qual lutamos, é verdade, mas que nem sempre premia a justiça (nas suas mais variadas formas). Novos momentos, ainda mais felizes, virão. Está só começando. Não acabou.

Para encerrar, afirmo e reafirmo: hoje todos nós somos mais BOTAFOGO do que fomos ontem. E amanhã seremos muito mais do que hoje. Os rivais não compreendem, questionam, ficam perplexos. E nem podem. Esse sentimento ninguém entende. Talvez nem o próprio botafoguense. Apenas sentimos, sorrimos, choramos, socamos e chutamos a cadeira ou o sofá, abraçamos quem está ao lado. Olhamos para o nada procurando explicações. Por horas, por dias, por meses. Caímos e levantamos. Seguimos. Fortes. Conscientes de que vai valer a pena. É tradição, nunca foi moda. E dentre todas aquelas estrelas, apenas uma brilha mais forte na nossa vida. Para sempre. Não se compara!

Saudações alvinegras! A história continua em 2018.

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