Um elefante acorrentado...

domingo, 23 de agosto de 2015

Quando garoto – e, confesso, até hoje – sempre fui apaixonado pela magia do circo. Naquela época era proibida a participação de animais nos espetáculos (vale o registro: sou a favor da proibição), e eu me encantava com a oportunidade de poder assisti-los de perto. Mas um animal específico me chamava a atenção: o elefante. E por vários motivos: pela grandeza, imponência, beleza e, principalmente, pelo fato de estar preso apenas por uma corrente. Certamente, se ele “soubesse” a força que tinha, arrebentaria aquela corrente, sairia correndo e ganharia as ruas em nome de sua liberdade. Não há metal ou ferro que seja capaz de segurar um gigante como aquele.

Da mesma forma eu enxergo o Botafogo: um elefante acorrentado. Gigante, imponente, belo, mas sem consciência da força que tem. E não é de agora. Existe algo que prende, bloqueia a evolução do clube para voltar a ser o Glorioso dos anos 60 e 90, por exemplo: um elefante para colocar medo em qualquer leão que pense ser o rei da selva.

Antes de comentar o jogo do final de semana, propriamente dito, é preciso citar o ranking de vendas de camisas no mês de agosto divulgado pela maior rede de lojas de material esportivo do país. O Botafogo, meus amigos, é o segundo que mais vende do BRASIL! No Rio, vendemos quase o triplo do Vasco, e em São Paulo, vendemos mais que o Santos. O alvinegro também vende expressivamente em diversos estados do nordeste e centro-oeste. E diga-se: tudo isso durante um dos momentos mais delicados da história do clube. Mas para este que vos escreve não é surpresa. Talvez possa ser para aqueles que insistem em nos acorrentar, e desta forma, impedir que façamos valer toda a nossa força.

E são muitos os elos dessa corrente. A começar por parte da mídia, a conveniente, que sempre alimenta mentiras para favorecer uns e diminuir outros. Mas o próprio Botafogo não se ajuda. O torcedor não recebe o tratamento que merece. Nas bilheterias do Nilton Santos, muita demora no atendimento e reclamação. Dentro do estádio, cadeiras sujas e apenas um telão funcionando (o Engenhão pode ter até quatro). Ao mesmo tempo em que nós, apaixonados, que respiramos o Botafogo não atentamos ou ignoramos esses detalhes, outros percebem e pensam duas vezes antes de enfrentar a estrada, pagar o ingresso e comparecer ao Niltão novamente. Eles não são menos botafoguenses, apenas não possuem a mesma disposição de enfrentar tantas adversidades. E eles têm a sua indiscutível razão.

Mesmo assim o alvinegro, guerreiro, estava lá. E mais uma vez fez uma festa para ficar na história. Quem é botafoguense sabe do que estou falando. Quem não é, lamento, jamais entenderá. Em campo, a camisa pesa. Não para quem nos enfrenta, mas sim, para quem a veste. O novo manto, lindo, tradicional, parece assustar o nosso time mediano, extremamente limitado... Mas que não fez um jogo ruim – aceito que discordem. Dentro desse universo de limitações, o Botafogo criou um bom volume de oportunidades, teve dois pênaltis não marcados (um deles a partir de um impedimento equivocadamente assinalado) e perdeu muitos gols.

Acontece que, dentro desse “universo limitado”, existem pontos fracos. E talvez o maior deles seja o lado esquerdo da defesa, onde Carleto é presa fácil para qualquer adversário, e Giaretta não dá conta da cobertura. Por ali o Paysandu construiu os três gols e diversas outras jogadas. Essa pode ser a justificativa para a insistência com Diego Jardel nos primeiros jogos: o reforço à marcação naquele setor. Elvis, titular neste domingo, não foi mal no jogo. Entretanto, taticamente, não exerce o mesmo papel de compor a marcação como faz Jardel.

Defeitos á parte (e eu poderia citar aqui muitos outros), era um dia daqueles. Até o melhor goleiro do Brasil não foi bem. Pode ser exigir demais do capitão, mas pela qualidade do Jéfferson não tem como ser diferente. A bola do Botafogo não entrou, e as do Paysandu entraram todas! O goleiro visitante fechou o gol, Luis Ricardo esteve muito abaixo, Luiz Henrique idem, Daniel Carvalho não rendeu... E Ricardo Gomes foi extremamente infeliz nas três alterações! Perdendo o jogo, em casa, primeiramente ele troca um volante por outro (Serginho por Camacho); na sequência, tira um dos mais lúcidos em campo, Neilton, quando poderia ter sacado Daniel Carvalho e optado por uma formação mais ofensiva. Daniel cansou, e ao invés de Elvis, poderia ter dado lugar a Diego Jardel.

Mesmo com todo esse cenário descrito anteriormente... Convenhamos: o Botafogo consegue reagir, faz um gol com Daniel Carvalho... E sofre outro – o terceiro - bizarro (desculpem o termo, mas acho que se encaixa perfeitamente) logo na sequência: um chute raro, depois de mais um cochilo da defesa. Pra correr atrás pela segunda vez, com todo aquele calor e com jogadores “pesados”, como Carleto e Daniel Carvalho, complica. Quase conseguimos, é verdade, graças a Arão, que corre por três, e uma ou outra bola alçada à grande área. Mas tudo deu errado. Aliás, quase tudo. Nas arquibancadas, deu tudo certo. Um show, um verdadeiro espetáculo proporcionado pela torcida mais apaixonada do Brasil.

Saí do Nilton Santos frustrado, mas não triste, tampouco desanimado. O pacto continua. E continuará até o final de nossas vidas. O Botafogo nos escolheu para a missão da incondicionalidade. E não podemos fugir. Pelo contrário: a torcida deve ajudar a desacorrentar esse Gigante. O Glorioso possui uma força que ele mesmo não conhece, apesar de ser tão perceptível para qualquer seguidor da Estrela Solitária. Tropeçamos, sim, mas a caminhada continua. O caminho para voltarmos a ser o verdadeiro Botafogo passa por esse acesso. E vamos conseguir juntos, time e torcida, custe o que custar.

Saudações alvinegras, e até a próxima!

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