Sou Fogão, sou Chape

domingo, 04 de dezembro de 2016

É difícil escrever alguma coisa. Faltam palavras até mesmo para quem faz do texto o seu principal instrumento de trabalho. Até porque se foram algumas das nossas referências, colegas jornalistas, que também utilizavam palavras no seu dia a dia profissional. Inclusive dois ilustres alvinegros. Não há muito o que comentar. Apenas lamentar, observar e prestar solidariedade. Ser solidário é o mínimo, e deveria ser rotina. Somos solidários apenas no momento da dor, quando na verdade a solidariedade deveria ser uma bandeira fixa no tremular de nossas atitudes.

Gostaria de escrever na coluna desta semana sobre a nossa heroica classificação para a Libertadores (fica para a semana que vem); Ou comentar a boa contratação de Gatito Fernandez (mais goleiro que Sidão); Talvez exaltar o pensamento ousado e de time grande, como somos, ao planejar o investimento em Montillo (eis que pensamos como Botafogo!). Mas não. Não há muito espaço para análises ou comentários esportivos no momento. Todas as vezes em que um avião parte para qualquer que seja o destino ali estão mais do que simplesmente pessoas. Há sonhos, compromissos, presentes, projetos. Há alguém esperando do outro lado. Ou aguardando ansiosamente o retorno. Desta vez uma escala inesperada interrompeu o itinerário.

Toda tragédia, talvez, venha acompanhada de algumas lições. Esta, envolvendo a Chapecoense, deixa o aprendizado sobre a ganância. Não que outros acontecimentos já não tenham trazido o tema à tona, mas há mensagens que não são compreendidas. E por isso são reenviadas de outras maneiras. Pessoas inocentes, infelizmente, pagam por isso. A ganância, que talvez explique o uso reduzido de combustível no avião que transportava a Chapecoense, afunda os clubes brasileiros em dívidas. E dentro desse contexto a Chape, até que se prove o contrário (estou me baseando no que leio e acompanho de longe), é modelo de gestão com recursos reduzidos. E como o Botafogo errou este ano em contratações... Com orçamento limitado, óbvio, como consequência da ganância e incompetência de outras administrações. Mas também com muitos equívocos e apostas que não vingaram.

A Chapecoense que encantava o país com a campanha aguerrida e histórica na Sul-Americana volta a nos ensinar. Mesmo que da maneira mais dolorosa. O clube que tanto subiu nos últimos anos – em todos os aspectos – alcança a eternidade. Os guerreiros saem de cena para virarem heróis. E despertam no ser humano um dos sentimentos mais incríveis, adormecido por conta de vários aspectos (a ganância é um deles): a fraternidade. O que o povo colombiano fez - especialmente torcida, dirigentes e atletas do Nacional - não é digno de adjetivos. Apenas de admiração e aplausos. Obrigado, Colômbia!

Enquanto isso, no Brasil, ao mesmo tempo em que chorávamos a morte de trabalhadores, pais de família e o fim trágico de tantos sonhos que embarcavam naquele avião, o congresso nacional desfigurava o pacote anti-corrupção. O nosso “presidente” sequer foi à Colômbia, e teve que receber as mais variadas críticas para “fazer o esforço” de estar presente ao velório na Arena Condá. Lamentável. Repugnante. Preocupante. O mundo tem jeito sim, e demonstrações como as do nosso povo e dos colombianos renovam as esperanças. Ao mesmo tempo, não é difícil compreender a necessidade de começar a mudança lá de cima, de Brasília no caso do Brasil, para que a humanidade seja verdadeiramente humana.

Por isso sou Fogão e sou Chape. Fogão porque no lugar do meu coração bate uma Estrela. Fogão porque não buscamos a mídia para nos auto-promovermos neste momento de dor. Enquanto o presidente do rival foi à imprensa falar que poderia fazer e acontecer e efetivamente nada fez, o Botafogo foi o primeiro clube do país a oferecer ajuda à Chape. Fato confirmado por um porta-voz do clube catarinense. O Botafogo não precisou fazer alarde e nem se aproveitar do momento para fazer marketing. Aliás, nunca precisamos! Somos um dos 12 maiores de todos os tempos pelo o que representamos, e não pelo o que tentam inventar e vender. Tenho muito orgulho disso! Obrigado, Glorioso.

Por isso sou Chape! Seria de qualquer jeito na decisão da Sul-Americana. O troféu vai vir para Santa Catarina, como forma de homenagem aos heróis. Aos pais de família, que batalharam e abriram mão de muitas coisas para estarem ali. O troféu vai vir para Santa Catarina como mais uma demonstração de nobreza dos colombianos. Os guerreiros são sim, campeões, e deixarão um legado que vai muito além da taça! Que possamos aprender alguma coisa e refletir depois dessa lamentável tragédia, ou as perdas e a dor de todas as famílias envolvidas (que não se cura, apenas se aprende a controlar e conviver) terão sido em vão. Obrigado, Chape! Força para continuar na sua trajetória de sucesso! Obrigado, futebol, por mais uma vez unir os povos de todo o planeta em um só coração.

Vamos Fogão! Vamos, vamos Chape!

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