Querido Mané...

domingo, 30 de agosto de 2015

Não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, tampouco assistir a um jogo seu no Maracanã. Esse é um sonho que tinha, mas infelizmente, por circunstâncias da vida, não poderei realizar. No entanto, saiba que eu sou eternamente grato por tudo o que fez por mim, pelo meu pai, meu avô, pelos meus filhos, netos, bisnetos e tantas gerações que hoje são representadas por quase cinco milhões de apaixonados. Você, Garrincha, consolidou o gigantismo do Glorioso, que começou em 1904, passou pela conquista do primeiro caneco três anos depois e pelo tetracampeonato carioca nos anos 30. Ao lado de Nilton Santos e tantos outros craques, você conquistou o mundo, e fez o planeta terra se render ao manto listrado em preto e branco com a inconfundível estrela solitária no peito. Hora ou outra, aqueles três mundiais que vocês conquistaram serão reconhecidos pela FIFA - assim como foi a Taça Brasil - e a justiça será feita em nome de sua memória e de sua geração. Essa mesma entidade (a FIFA) já nos reconheceu como um dos 12 maiores clubes de todos os tempos.

Graças a você, Mané, em qualquer canto que eu vá no Brasil e no mundo sou respeitado. A minha camisa é um passaporte, onde o carimbo consta como o “Botafogo de Garrincha.” O seu, o meu, o nosso Botafogo, querido Mané, que você ajudou a construir, lamentavelmente hoje respira por aparelhos. Sinto-me na obrigação de contar a você, eterno ídolo, o que acontece aqui no planeta terra.

Aqueles aplausos e sorrisos que você provocava nas arquibancadas, com o jeito único de bailar e brincar com a bola nos pés, de escondê-la e fazer de qualquer adversário um mero “João”, hoje, são raros. Nesses últimos dois anos, as gargalhadas que eram fruto de seus dribles desconcertantes, foram substituídas pelo choro sincero de quem é apaixonado pelo Glorioso. São lágrimas de dor, preocupação, frustração. Algumas vezes, sim, de orgulho. Toda vez que nos lembramos do peso dessa camisa, da história, em parte escrita por você, Mané, nos emocionamos. Estamos sempre lá, nos estádios, nas ruas, nas rodas de discussões, defendendo a nossa honra e lutando por dias melhores.

Lembra quando enfrentava times e seleções fortes, e tratava todos como “São Cristóvão?” Hoje, Mané, o seu Botafogo, que atropelava qualquer um que ousasse cruzar o seu caminho, enfrenta adversários desse nível. E não vence. Acredite, eterno ídolo, não é piada! Os torcedores que, na sua época, apenas aguardavam pelo próximo título e espetáculo em campo, esperaram durante uma semana pelo jogo contra o CRB, na esperança de reassumir a liderança da série B do Brasileiro. Era só vencer.

Não se espante, Garrincha... Eu o perdôo se você não souber o que é série B e nem conhecer esse adversário. O verdadeiro Botafogo jamais os enfrentaria. Mas por conta de uma sequência de administrações incompetentes, que teve como ápice o segundo mandato do dentista, nós somos obrigados a jogar contra essas equipes. Ironia, não Mané? Logo você, que provocava gargalhadas, foi traído por um dentista, capaz de tirar o sorriso de milhões de pessoas.

Hoje quem veste a SUA camisa sete é o Neilton. Talvez o mais lúcido do Botafogo no jogo contra o CRB. De fato, nos 20 primeiros minutos, jogamos como Botafogo. Atropelando o adversário, criando chances, sem ser ameaçado na defesa. Exatamente como a sua geração fazia quando realizava excursões pelos mais variados cantos do planeta. Mas peço-lhe perdão mais uma vez, antes de contar que Giaretta, Carleto, Serginho, Renan Fonseca, Diego Jardel e tantos outros vestem o manto mais tradicional do país. Pela falta de qualidade são muitos os erros individuais, que comprometem a nossa caminhada para voltar a ser o Botafogo. Não só comprometem como também assustam e preocupam. Vamos enfrentar o Atlético-GO terça-feira, em casa. Podemos vencer, claro. Mas quem se sente seguro para acreditar em uma arrancada? Esse time não inspira confiança. Diga ao Manga que o bicho já não é tão certo.

Sim, caro ídolo Garrincha... Nós perdemos para o CRB! Os “Joões” nos derrotaram. E não é piada. Por favor, não conte ao seu grande amigo Nilton Santos que, no estádio que leva o nome dele, no Rio de Janeiro, nós fomos derrotados pelo Paysandu na rodada passada. Se ele, por acaso, descobrir e questionar, utilize a sua malandragem e senso de humor e o convença de que é mentira, uma brincadeira de mau gosto. Ele pode ter uma crise de choro ou depressão. Ou até mesmo pode querer voltar a esse plano para entrar em campo, e mostrar o que é o Botafogo para este bando de “sem alma” que hoje nos defende (uma pena não ser impossível). Também não conte, por favor, que o Carleto veste a histórica camisa seis. O Enciclopédia certamente não vai gostar de saber.

Pedi a você que minta se for necessário, mas confesso, Mané, que até para os botafoguenses aqui em baixo é difícil acreditar que tudo isso seja verdade. Temos um clube endividado, na segunda divisão, em dificuldades para conquistar o acesso, que por sinal é fundamental para a nossa sobrevivência. De onde quer que esteja eu sei que você torce, acompanha, vibra e abençoa. Toda vez que eu vou ao Maracanã, passo pela sua estátua e beijo. E naquele milésimo de segundo, entre o fechar dos olhos e a aproximação dos lábios, eu me renovo. E encontro forças para continuar torcendo, vibrando, acreditando. Até o final da minha vida! Como dizia Heleno de Freitas, que você não chegou a conhecer, mas certamente ouviu falar, “o meu Botafogo não é lugar para covardes”.

O nosso Botafogo, Mané, é lugar para quem ama incondicionalmente, para quem entende a importância da nossa história que, repito, teve algumas das mais belas páginas escritas por você. Ninguém pode lutar mais que o Botafogo. Não podemos admitir jogadores sem alma e sem vontade de vencer. Queremos, no mínimo, que honrem a nossa gente. Eles só podem estar querendo acabar com o nosso clube, Garrincha. Mas a nossa sorte é que você, o Nilton e tantos outros já o tornaram imortal.

Obrigado por tudo, Mané. Continue brilhando e nos iluminando de onde quer que esteja. Um dia, talvez, nos encontraremos. Mas eu volto no final do ano para lhe contar como terminou essa nossa caminhada. Meu avô, que tanto vibrou e sorriu com você, lhe manda um abraço apertado em nome de todos os alvinegros e brasileiros. És, para sempre, a Alegria do Povo!

Obrigado por existir, Botafogo! Nós te amamos, não importa a circunstância. Jamais desistiremos!

Saudações alvinegras, e até a próxima semana!

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