Quando um ídolo volta...

sábado, 24 de junho de 2017

Nos últimos 13 meses o Botafogo entrou em campo sem uma parte da sua história recente. Sem parte do orgulho de quem sabe valorizar quem valoriza a história. Sem aquele que transformou a própria história em Botafogo. Jéfferson e Botafogo, Botafogo e Jéfferson. Unidos pela singularidade capaz de transformar qualquer pluralidade em um só coração. No mesmo pulso, ritmo, sentimento. Jéfferson é o torcedor alvinegro personificado em jogador. Desde Túlio Maravilha, jamais comprei uma camisa do Botafogo sequer com o nome de quem quer que seja. A sua comprei. Pois não há dúvidas de que é um dos nossos, de verdade.

Se eu ainda fosse criança e pudesse entrar em campo com o time nesses últimos anos, certamente, gostaria de dar as mãos ao Jéfferson. Como não posso, resolvi abraçá-lo. Assim como nos abraçou em um dos piores momentos da nossa gloriosa trajetória centenária. Assim como deu as mãos, ora sem, ora com as luvas, a centenas de crianças. Elas são o nosso futuro e presente, dos quais o goleiro é diretamente responsável.

Qualquer que seja a conquista a partir de agora terá um dedo de Jéfferson. Ou cinco, nas defesas de mão trocada. Talvez os dez para o encaixe com segurança. A reconstrução do Botafogo passa pelo “sim” dito por ele no final de 2014. Líder, destaque, decisivo, fundamental. Um monstro, verdadeiro mito. Ídolo na concepção da palavra, dentro e fora de campo, com defesas e atitudes. Trocou propostas e dinheiro pelo compromisso, pelo sentimento. Em um país carente de referências, Jéfferson é álibi. Exemplo. Capitão de milhões, guia de uma Estrela. Não de qualquer uma. Da Solitária, a Mais Tradicional do país.

A contusão de Jéfferson machucou também a cada um dos milhões de alvinegros. Perdemos ali o nosso líder em campo, o porta-voz dos momentos difíceis, o mensageiro de “O Gigante voltou” no Mané Garrincha, no final de 2015. Não nos esquecemos, capitão, da sua emoção ao erguer aquele troféu que em nada tem a ver com o nosso gigantismo. Mas que era o símbolo da vitória contra todas as dificuldades. E você, assim como nós, as sentiu e sofreu. Levantamos os braços contigo, livrando os nossos corações daquela dor. E, contigo curado, prometemos levantar os braços juntos novamente, sempre que preciso, agora para proteger a nossa meta.

Exatamente por isso nós também sentimos as suas dores e a sua ausência. Os últimos 13 meses foram de contagem regressiva, busca por informações e revolta com a necessidade de sua segunda cirurgia. Jéfferson disse que chegou a pensar em encerrar a carreira, mas nós tínhamos certeza de que não aconteceria. Sendo a nossa personificação em forma de jogador, jamais desistiria. O botafoguense não desiste. Ele luta, se purifica, dá a volta por cima quando ninguém espera. Novamente esse detalhe de nossa história se confunde com a trajetória do capitão.

Durante esse período estivemos bem resguardados, primeiramente por Sidão, agora e principalmente por Gatito. A postura exemplar, dentro e fora campo, o faz ter a humildade de reconhecer que o momento é do paraguaio, e que deve aguardar a sua oportunidade. Não tem problema. Já esperou e nós esperamos tanto... O que não podemos abrir mão jamais, até o final de sua carreira, é que esteja presente aos jogos, ao vestiário, ao dia a dia. Que esteja escalado nas relações dos jogos, para que possamos olhar, mesmo que para o banco de reservas, e nos sentir protegidos. Seja pelo profissional ou pelo botafoguense que vibrará ou sofrerá como nós.

Jéfferson volta para o grupo do qual jamais saiu. Grupo que representa a ele e a nós, pelo espírito de luta e superação. Dá gosto e orgulho de assistir ao atual Botafogo jogar, assim como foi emocionante ver o nosso camisa um no banco de reservas durante o clássico. Fazemos ideia do filme que passou pela sua cabeça quando calçou novamente as chuteiras, as luvas e entrou em campo. Mesmo que apenas para aquecer, por enquanto. Olhou para o estádio Nilton Santos, completamente alvinegro, e para toda aquela gente que ali estava para apoiar o Botafogo. Certamente se sentiu em casa. E nós nos sentimos mais completos.

De presente a vitória por 3x1. Com dois gols do Roger e um do Victor Luiz, que assim como Jéfferson, entendeu como poucos o que é vestir uma das camisas mais pesadas e respeitadas do mundo. Não foi preciso fazer nenhuma defesa desta vez, é verdade, tampouco usar a faixa de capitão. Esses são os próximos passos, sem pressa.

Quando um ídolo volta é assim. Na verdade, jamais se foi. Nesse meio tempo de “até breve” os seus companheiros deram passos importantes na caminhada para reerguer o Glorioso. Estamos bem no Brasileiro, na Copa do Brasil e na Libertadores. Voltamos a ser o Botafogo que queremos e sonhamos. Todos nós estamos mais prontos e fortes para tornar os objetivos uma realidade. Sentimos que a possibilidade das grandes conquistas é grande. É real. A estrada é longa, sinuosa, difícil, mas agora temos de volta o nosso capitão. Bem-vindo novamente, Jéfferson! Nosso Jéfferson, nosso ídolo.

Saudações alvinegras! Jogos importantes e decisivos estão por vir nos próximos dias. Estamos prontos! Até a próxima...

TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.