O que eu vou dizer para o meu filho?​

segunda-feira, 01 de junho de 2015

Uma das canções que embalam o Botafogo no Campeonato Brasileiro da série B e nesse momento de reestruturação do clube é a “Reage meu Botafogo”, interpretada pelo alvinegro Léo Russo. Nesta belíssima composição, há um trecho que chama a minha atenção: “Meu filho quer te conhecer... mostra pra ele quem você foi, mostra pra ele quem você é, mostra pra ele do que você é capaz.” Parei para refletir sobre essa pequena parte do texto e seu significado, enquanto assistia a terceira vitória do Glorioso contra aquele time baiano, que veste o uniforme com a pior combinação de cores existente – não sou estilista, mas tenho as minhas preferências, é claro.

Ainda não sou pai. Mas assim como a maioria dos homens, pretendo ser daqui a alguns anos. Planejo dar ao meu filho tudo de melhor que foi possível. E uma das principais heranças que vou deixar pra ele é o amor pelo Botafogo. Haverá o dia em que ele, na mais pura inocência encantadora de uma criança, vai me perguntar por que a maioria dos coleguinhas não é alvinegra; por que não temos mais títulos desse ou daquele campeonato; por que nada é fácil para o time estrela solitária; Por que, por que, por que... E o que eu vou dizer para o meu filho?

Não pretendo falar muito. Vou mostrar e fazê-lo sentir. Se ele já estivesse aqui, neste plano, eu o levaria para assistir a Botafogo x Vitória, no último sábado. Ao se aproximar do Estádio Nilton, ele já sentiria um aperto diferente no peito. E talvez diria pra mim... ‘papai, estou passando mal’. Eu responderia que não. Na verdade, ele estaria sentindo, pela primeira vez, a emoção de frequentar um templo. Não apenas um estádio. Não podemos chamar assim um local onde há estátuas e referências a Garrincha, Nilton Santos e tantos outros. Templo este que reverenciou Jéfferson, o camisa 1 da Seleção Brasileira. Então ele me perguntaria o porquê de toda aquela festa, com balões e a imagem do goleiro alvinegro sobrevoando o estádio. Então, eu apontaria para a faixa da torcida alvinegra, que traz a imagem de dezenas de ídolos da história do clube. E diria: “meu filho, o Jéfferson, um dia, poderá estar naquela faixa. Os times dos seus coleguinhas não podem ter uma faixa daquela. Sabe por que? Não haveria com quem preencher todo aquele espaço.”

Certamente o pequenino se encantaria com os gols de Giaretta e Wiliam Arão – repito: a melhor contratação do Botafogo para 2015. Ficaria sonolento com os 35 primeiros minutos da etapa final, onde o time de Renê Simões parou, limitou-se a marcar e assistir a um Vitória que teve a bola nos pés, mas não soube traduzir tal fato em gols. Que certamente complicariam um pouco a partida, algo que é típico do Botafogo. No fim, meu filho sorriria com a sequência de gols perdidos pelo alvinegro, com direito a alguns lances, de fato, engraçados. “O que é isso”, perguntaria ele. “Esse é o Botafogo, meu filho.” Apito final, festa, aplausos e sorrisos em nossa casa.

Felizes, depois de mais um resultado positivo, voltaríamos pra casa. No carro, ele estaria cantando algumas das belas canções entoadas pelos torcedores no Nilton Santos. Torcida esta que já conquistou o técnico Renê Simões, “impressionado com o fato de não parar de cantar nem por um segundo”. Caro Renê... quando cantamos que “Ninguém Cala esse nosso amor”, não é da boca pra fora. E você já entendeu isso.

Mas voltando a viagem de regresso à Nova Friburgo, o meu pequenino, encantado com o que assistira, não mais faria aquelas perguntas pra mim. Agora seria a minha vez de questionar: “E aí, filhão. Ainda quer ser maioria? Acha mesmo que ter títulos é o mais importante?” E afirmaria: “Você não nasceu pra ser apenas mais um dos mais comuns. Você está aqui pra pensar diferente, pra fazer a diferença.” Dentro do universo limitado da cabeça de uma criança, ele responderia: “Obrigado, papai, por me tornar botafoguense. Quando vamos vir novamente?” Emocionado, pararia o carro e daria um beijo no meu filho. Completaria, antes que cansado, ele dormisse vestido com o manto e sonhasse com aquela tarde: "Vamos vir muitas vezes. Nem sempre voltaremos felizes, e isso faz parte. Mas voltaremos cada vez mais alvinegros. Acredita em mim?". "Claro, papai. Amo você... amo o Botafogo!". Agora ele dorme em paz. E eu, feliz por fazê-lo entender o significado de vestir aquela camisa.

Esse é o meu garoto! Esse é o meu Botafogo! Só quem torce sabe, sente, entende. Azar de quem nunca poderá ter essa experiência.

Saudações alvinegras, e até a próxima!

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