O caldeirão vai ferver!

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Meus amigos alvinegros... Restam apenas três passos para acordarmos do pesadelo. O rebaixamento deixou de ser uma humilhação para fazer parte da moralidade do futebol brasileiro há tempos. Ou pelo menos parte dela, uma vez que é público e notório o esforço para manter um ou outro clube sempre na primeira divisão, por conta de interesses que também não são segredo para ninguém. Considero grande, na verdadeira concepção da palavra, o time que cai e volta no campo, na força da camisa. Esses sim demonstram que queda alguma é capaz de apequenar ou diminuir a história construída ao longo de mais de um século. Os que procuram outros meios para escapar da série B não me convencem de sua grandeza ou nobreza, uma vez que não comprovam que poderiam sobreviver sem mídia, apoio ou até mesmo respeito.

Digo sim, respeito, pois em momento algum o Botafogo foi respeitado como deveria nesta série B do Campeonato Brasileiro. É muito fácil escrever uma enxurrada de matérias criticando a torcida do Glorioso. O difícil é perceber que não houve o mínimo de boa vontade para facilitar a vida desse torcedor. O Botafogo foi o rei das “terças-feiras”, e jogou pouco aos sábados. Ao contrário do Vasco, por exemplo, que atuou em casa muito mais vezes aos finais de semana em 2014 nesta mesma divisão, e teve médias de público irrisórias. O número melhorou nas rodadas finais, quando a diretoria levou os jogos para o Maracanã... Aos sábados! Quando o Botafogo jogou em horário decente, num domingo de manhã, a torcida esgotou os ingressos. Não vou nem entrar no mérito das dificuldades de transporte até o estádio Nilton Santos, ou mesmo os horários, quase sempre às 21h30, contra adversários sem expressão alguma. A sorte é que o botafoguense não é manipulável. Ele sabe que existe parte da mídia que é tendenciosa. O botafoguense mostra, desde a escolha do time de coração, que não possui a capacidade de raciocínio limitada ao que é imposto.

Respeitando ou não, eles vão ter que engolir a volta do Gigante em 2016. Assim como tiveram que digerir quando o perfil oficial da Libertadores, via twitter, comemorou a participação do Glorioso na competição em 2014. Certamente eles esperavam festa para outro clube. Respeito não se planta ou se impõe, se constrói. E o resgate da nossa história vai ter como palco um velho caldeirão na próxima temporada: o Caio Martins.

Lembro-me muito bem de 2003. A fibra do Sandro, a maestria de Valdo e o calor da torcida em nosso alçapão. Ali o Botafogo resgatou a sua força, e começou a construir um caminho de glórias novamente. O alicerce foi a recuperação no cenário estadual, onde somos finalistas em quase todos os anos nas últimas dez edições do Carioca. Demos um passo internacional, mas deixamos a desejar nacionalmente. A base foi fraca para suportar um telhado enorme, mal colocado por um dentista que pensava ser um engenheiro de ponta.

Doze anos depois, o caldeirão alvinegro em Niterói vai voltar a ferver. Desta vez, não para ser o ponto do resgate, mas sim, da afirmação do Botafogo. Retrocesso? Não penso dessa forma. O estádio Nilton Santos, claro, é bem mais moderno, possui capacidade maior e potencial enorme de exploração e captação de recursos além do futebol. No entanto, com a concessão do Niltão para o Comitê Olímpico Internacional, teríamos que procurar uma nova casa. Ao contrário de outrem, temos duas. E esta nos remete a lembranças maravilhosas.

Foi no Caio Martins que o Botafogo trilhou o caminho para o título da Copa Conmebol, em 1993. A conquista, obviamente, foi sacramentada no Maracanã, apenas para lembrar que o “Maior do Mundo” também é nosso. O único clube carioca que conquistou um título internacional no Maraca também construiu parte da trajetória para o bicampeonato Brasileiro no Caio Martins.

Deixando a parte mística e histórica, que para nós é sim, muito importante – feliz do clube que possui boas histórias para contar – precisamos levar em conta a realidade do clube. O Botafogo não terá grande capacidade de investimento, uma vez que a política de austeridade vai permanecer pelos próximos anos. Não há outro jeito para voltarmos a crescer de maneira sólida. Do contrário, poderemos novamente ter a nossa base e os nossos alicerces derrubados. Ter um time modesto não nos impossibilita de brigar por títulos. Com planejamento e criatividade, como aconteceu em 1995, tudo é possível. Mas o que pretendo dizer com tudo isso é: ter um estádio que funciona como caldeirão, onde a torcida terá a possibilidade de comparecer em bom número (vide a boa localização), pode ser decisivo para vencer os jogos e somar pontos importantes. Os adversários precisam sentir a força do Botafogo no Rio de Janeiro, e o Caio Martins será um fator chave para que isso aconteça.

Escrevo este texto já na empolgação de quem está muito próximo do acesso. Não dá para ser diferente. O Botafogo de 2015, que joga apenas o suficiente – e nada além disso -, comprova o quanto essa camisa tem força. Parece que o elefante acorrentado está prestes a quebrar um elo. Em 2016, a história é outra... Caio Martins de volta, 21 anos da última conquista nacional, time possivelmente desacreditado... Pode ser que não. Mas a minha história, a minha bandeira, a minha Estrela e o meu amor pelo Botafogo me ensinaram a não duvidar de certas coincidências...

Saudações alvinegras! Estamos voltando pra casa... E eu retornando por aqui na próxima semana!

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