Nem tanto, nem tão pouco...

domingo, 29 de maio de 2016

Perder é ruim. Perder um clássico é ainda pior. Jogar mal é ruim. Jogar mal e vencer é ótimo. Jogar mal e perder é normal. Perder um clássico jogando mal e praticamente sem chance alguma de vencer... É péssimo! Mas se tratando do Botafogo versão 2016, na visão deste que vos escreve, é preciso analisar de maneira peculiar. Tanto quanto peculiar é o time alvinegro deste ano, considerando aquela série de fatores – que é chato repetir, mas é necessário – que todos conhecem: investimentos limitados, time arrumado, organizado, que carece de qualidade, blá, blá, blá... Nem tanto, nem tão pouco.

Ao crucificar Emerson pela falha no gol (o Bruno Silva tem a sua parcela de culpa, pois não é a primeira vez que o time sai jogando dessa forma e quase sempre dá certo), poderemos deixar de fazer justiça a mais uma boa atuação do zagueiro alvinegro. Errou sim, no lance capital, mas possui enorme potencial. Na visão deste colunista, foi “muito mais revelação” do carioca que o Ribamar. Embora seja preciso reconhecer que o Carli faz falta, especialmente no jogo aéreo. Contudo, o mais importante deste lance, talvez, seja observar o contexto de forma emblemática.

O Botafogo 2016 de Ricardo Gomes é o time do erro zero, no sentido realmente do “não poder errar”, mesmo que domine o adversário. Na decisão do carioca, por exemplo, os dois gols do Vasco surgiram de falhas individuais do alvinegro – no caso, de nosso capitão. O Botafogo perdeu o clássico deste domingo por um novo erro individual. Mas dessa vez não apenas por isso. Quando o “erro zero” deixa de existir, a nossa maior deficiência fica escancarada: a falta de qualidade.

Sim, pois assistir a um jogo onde o Botafogo leva um gol e precisa reagir é quase que torcer para ganhar na mega-sena apostando em números que dificilmente são sorteados. As “dezenas” Sassá e Neilton, por exemplo, que foram as apostas de Ricardo Gomes para mudar a apatia do primeiro tempo, vez ou outra – quase que raramente – são sorteadas. Dá para contar nos dedos os jogos em que a dupla mudou a história da partida e resolveu algo a favor do Botafogo. Na rodada anterior Neilton resolveu, é verdade... Sassá foi uma arma interessante em alguns momentos na série B, especialmente. Mas repito: é como jogar na Mega, onde a possibilidade de dar errado é maior do que a de dar certo.

Mas, como descrito no título deste texto, “Nem tanto e nem tão pouco”. O Botafogo nem sempre joga tão mal assim, como aconteceu contra o Fluminense. Perdemos o meio-campo, com Leandrinho mal e Marquinho inoperante. Salgueiro... Foi Salgueiro. Por isso a tentativa frustrada com Sassá e Neilton. Era o que tinha de melhor em termos de opções. Dentro desse universo de limitações de time e elenco, é preciso ressaltar a quantidade incomum de desfalques por partida. E jogadores importantes! Simplesmente, o capitão, líder e ídolo Jéfferson; o melhor zagueiro do elenco, Joel Carli; Diogo, que apesar de bem substituído por Victor Luiz, estava crescendo de produção; Airton e Lindoso que, pasmem, equilibravam o meio-campo com Bruno Silva; até mesmo outros não tão importantes, como Leandrinho e Sassá, que retornaram, Gegê, Luis Henrique... Qualidade à parte, o número alto de ausências por rodada atrapalha a busca pela regularidade. Ainda assim, o time não perde o padrão (questionável ou não).

Por isso, nem tanto: a situação do Botafogo não é tão desesperadora assim. E nem tão pouco: a necessidade por reforços que acrescentem qualidade é urgente. E eles estão chegando. Pimpão, Camilo e Canales podem aumentar o poder de fogo, que no momento, é limitadíssimo. Até mesmo Dudu Cearense, um jogador mais experiente, pode contribuir na composição do elenco. Não são as contratações dos sonhos, mas que se encaixam dentro do perfil financeiro do clube e tático da equipe.

Não adianta contratar atletas que tenham características diferentes ao que Ricardo Gomes pensa para o Botafogo. Dudu é volante, e quase sempre o time é sustentado por uma trinca de jogadores da posição; Pimpão joga pelas pontas, como Gegê, Leandrinho, Marquinho, Neilton e outros, mas na teoria com mais qualidade; Camilo é o meia para pensar o jogo, algo que Salgueiro ainda não fez como se espera; E Canales é a esperança de gols, que não é possível depositar em Ribamar e Luis Henrique.

No mais, torna-se quase impossível cobrar algo de Ricardo Gomes. Conseguiu montar um time com padrão de jogo, mesmo com todas as limitações, que até o momento não foi “engolido” por nenhum rival contra quem jogou. Pelo contrário. Sempre existiu, no mínimo, equilíbrio, ou leve superioridade do adversário. Como no jogo deste domingo. Também não há como cobrar vontade dos jogadores. O time corre o tempo todo, luta, e muitas vezes a disposição foi responsável por superar as limitações. Cobrar de quem então? Não existe milagre. Talvez seja melhor entendermos o Botafogo e aceitar o que ele pode nos oferecer neste ano. Emoção? Vai ter, claro. Mas a teoria do “Nem tanto e nem tão pouco” talvez ajude time e torcida a levarem a campanha com mais racionalidade.

Saudações alvinegras! Vamos seguir em frente...

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