Grandeza não se compra...

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Trocaria eu todo o dinheiro do mundo pela plenitude da felicidade! Uma nota, uma moeda, uma letra de câmbio, uma referência de crédito, uma recheada conta bancária... Uma fortuna inteira em barras de ouro, objetos, imóveis, carros, seja lá o que for. É possível comprar inúmeros bens, viver confortavelmente, fazer viagens, vestir as melhores roupas, frequentar lugares onde apenas os mais favorecidos financeiramente poderiam estar. Mas a felicidade plena o dinheiro não compra. O vazio deixado pela consciência da ilusão não é preenchido jamais, embora exista a resistência própria e a necessidade de autoafirmação para quem vive neste universo paralelo.

Grandeza não se compra! Massacrado, menosprezado, questionado, azarão. Terás força para chegar a uma decisão de campeonato, onde há rivais com alto poder de investimento, maior cobertura da mídia (propositalmente, por conta de interesses paralelos) e outras variáveis que os tornariam naturalmente favoritos? Terás sim. Desde que os jogadores vistam uma camisa listrada na vertical em preto e branco, e carreguem a Estrela Solitária, não apenas no lado esquerdo do peito, como também no coração e na alma.

Terás força sempre que os atletas entenderem que nada nunca foi fácil para este clube. As grandes conquistas sempre vieram em batalhas árduas, e se hoje elas não são multiplicadas, não existe uma explicação lógica que justifique. As respostas serão buscadas por gerações, mas jamais encontradas. Aqui se aceita, se vive e se desafia. Apaixona-se a cada dia e amplia-se esse amor incondicional. Renovam-se os votos de crença, e a cada queda, levanta-se. Renasce. O lógico e o óbvio não têm vez. Há três mundiais ainda não reconhecidos, e muitas outras taças poderiam ter sido conquistadas ao longo de quase 112 anos. Seria bom, claro, mas sinceramente... Para que? O que foi ganho bastou para o reconhecimento, para eternizar um dos 12 maiores clubes de todos os tempos do futebol mundial. Novas conquistas são necessárias e elas virão, mas a história jamais se perde.

Terás força desde que as críticas se transformem em combustível para atropelar a desconfiança. Inclusive de sua gente: os escolhidos, que jamais te abandonam, mas que possuem a exata noção da sua dimensão. E por isso querem mais, o melhor. Sempre. Para sempre. São 20 anos sem um título nacional, mas nas arquibancadas somos campeões a cada jogo. Defendemos os nossos ideais, passamos por cima dos seus tropeços e seguimos em frente, com fé e fidelidade. Embora questionáveis - não temos torcida menor que Atlético-MG, Inter e outros, tampouco do tamanho do Bahia - as pesquisas confirmam que viver a melhor década de sua história não foi suficiente para um de nossos rivais nos ultrapassar em tamanho de torcida. Grandeza não se compra...

Terás força desde que o seu treinador acredite no peso de sua camisa. Ricardo Gomes acredita, conhece e vivencia. Dentro do universo de limitações técnicas, montou um time organizado, bem disposto e humilde. Que assume as próprias deficiências, mas as supera com garra, aplicação e disposição. Discute-se a qualidade, mas nunca o comprometimento desses jogadores. Eles possuem a exata noção do peso que carregam quando vestem o manto alvinegro. E muitas vezes esse reconhecimento é mais importante do que ostentar um centroavante com salário de 800 mil reais.

Terás força todas as vezes em que uma batalha exigir mais do que pode ser feito. Este colunista confessa a vocês que, em determinado momento, chegou a temer que a pressão pudesse não resultar em nada. Transformar domínio em gol não é simples quando a capacidade individual está aquém do necessário. Mas feliz do clube que tem como símbolo uma invenção divina. Talvez a conhecida frase, que os alvinegros eventualmente transformam em prece, explique o cruzamento preciso de Gegê e o gol de Ribamar. Ou então justifique jogar dez minutos com um homem a menos, ter um escanteio contra aos 50 minutos, e ainda assim resistir. Bravamente. Com drama, sofrimento, mas com espírito. 

Se a formação do caráter e da identidade de uma pessoa passa pela escolha do time de futebol, o clube que nos ensina muitas coisas a respeito da vida deixa mais uma lição. O Botafogo terá forças sempre que for desafiado. São nove decisões de Campeonato Carioca em 11 anos, e é preciso respeitar essa marca. Até porque se fosse outro clube, que não preciso citar qual, esse fato seria capa de jornal e pauta para matérias durante semanas. Mas do lado de General Severiano não é preciso fazer alarde. Grandeza não se compra, não se impõe, não se vende e nem se cria. Ela se constrói com o tempo e com vitórias, de forma nobre e marcante. E o Gigante Botafogo está muito perto de, mais uma vez, marcar o seu nome em um final "improvável". Até mesmo, pasmem, “impossível” para alguns especialistas (?).

Continuem, meus caros, apontando favoritos, desdenhando, fazendo comparações absurdas, questionando. E sejam surpreendidos por essa instituição mística. Percam tempo, o sono, os cabelos e a credibilidade em busca de respostas que jamais encontrarão. Os senhores podem até saber alguma coisa sobre futebol, mas nunca entenderão absolutamente nada de Botafogo!

Saudações Alvinegras! Vamos juntos em busca de mais um título Estadual! Enquanto isso, o Arão vai assistir TV...

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