De Nilton para Mané

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Caros amigos escolhidos... O pesadelo, de fato, terminou. E quem duvidou da capacidade de recuperação do Botafogo, agora, se rende mais uma vez à imortalidade da fênix alvinegra. O Glorioso será capaz de se reerguer quantas vezes for preciso. A cada capítulo de dificuldade, reafirmamos o nosso gigantismo. Viver de mentiras e armações é fácil. Qualquer um “qualquer” sobreviveria desta forma. Mas o clube que carrega a Estrela Solitária no lado esquerdo do peito é auto-suficiente, resguardado por uma história incomparável. O “texto” sobre a vida do Botafogo não é interpretativo, e sim, instigante. Não há como explicar um parágrafo sequer. Os porquês se escondem diante de um cenário intrigante, envolvente, contagiante. Incompreensível. Apaixonante.

Essa história, reconhecida em todo o mundo, está espalhada nos mais variados cantos do Brasil. Durante a caminhada de retorno, a bandeira do Glorioso tremulou até mesmo nos locais mais improváveis. Lotamos estádios em Brasília, Espírito Santo, Minas Gerais e no Nordeste. O Elefante Acorrentado quebrou um elo ao resgatar a auto-estima do torcedor alvinegro. 

Não importa se foi o Campeonato Brasileiro da Série B. A minha história e a minha camisa pedem mais, é verdade. No entanto, ao ver o Jéfferson levantar a taça e ouvir o hino mais belo do mundo foi impossível não se emocionar. Nós, que fazemos do Botafogo a nossa vida, sabemos o quanto esse troféu representa para o clube. Não em termos de história e peso, mas de reafirmação. Reconstrução. O caneco da série B estará em General Severiano apenas para marcar o início de uma nova era. Servirá também como um alerta para a atual e futuras administrações do clube, que lembrarão a difícil caminhada de 2015 para pautar as respectivas decisões.

Ah, Botafogo... Seus ídolos são tantos que seria impossível reverenciá-los apenas em nosso Estado. Talvez todo o planeta terra seja insuficiente. Deixamos de levar o título e colocar um definitivo ponto final neste capítulo em nosso estádio, o Nilton Santos, para vencermos no Mané Garrincha. O passeio alvinegro do Rio de Janeiro à Brasília poderia ter sido tema de uma conversa entre os nossos dois maiores ídolos, concordam? E quem disse que, lá nos céus, Garrincha e Nilton Santos não torceram e conversaram sobre o assunto?

“Alô, meu amigo Nilton Santos! Acompanhou a trajetória do nosso Botafogo este ano? Enfrentamos um monte de “São Cristóvãos”, em vários lugares diferentes. Parecia aquelas excursões que fazíamos na década de 60, lembra-se?”

“Meu grande amigo Garrincha! Claro que eu acompanhei. Enquanto eu estive lá embaixo e com saúde, eu ajudei a cuidar do nosso Botafogo. Fui chamado para fazer companhia a você aqui em cima, mas jamais deixei o meu grande amor de lado. Infelizmente, Mané, vivemos algumas dificuldades esse ano...”

“Dificuldades, Nilton? O nosso Botafogo que atropelava todo mundo na nossa época? Só acredito porque você está me contando.”

“É verdade, Mané. E te digo mais: depois que você se foi, nós ficamos 21 anos sem conquistar título algum. Por incompetência, por erros de arbitragem... Enfim. E o mais incrível: o amor daquelas pessoas que nos acompanhavam triplicou, e eles fizeram dos filhos e netos, herdeiros dessa paixão infinita. Precisava ver, amigo. São mais de cinco milhões de apaixonados em todo o território brasileiro e várias partes do mundo. A nossa imagem está em General Severiano, em um muro perto da sede e em todos os museus que falam sobre futebol.”

“Que legal, Nilton! Nem sei direito o que é museu, mas se você disse que é bom eu acredito! Mas você não me explicou porque esse campeonato que jogamos esse ano só tinha o São Cristóvão...”

“Nada disso, Garrincha. Por conta de erros sucessivos e uma administração que deixou o clube numa situação muito difícil, nós disputamos uma divisão inferior. Não enfrentamos apenas o São Cristóvão, que aliás, infelizmente, anda mal das pernas...”

“E o Manga deixou tudo isso acontecer? O João Saldanha não disparou um tiro sequer?”

“Ah, Mané... Você continua o mesmo! João Saldanha está por aqui conosco, e lá embaixo, eternizado na história do futebol mundial como nós. O Manga também está por aqui, mas deixou alguns herdeiros. O primeiro foi um tal de Wagner, que se transformou em herói. O cara foi recebido por mais de 20 mil pessoas em um aeroporto, acredita? Recentemente, surgiu um goleiro que atende pelo nome de Jéfferson. Dizem que ele abriu mão de muito dinheiro pela vontade de se juntar a nós no muro dos ídolos e na história do Botafogo. Começou bem, pelo o que eu ouvi falar.”

“Mas espere, Nilton. Você fala tanto em dificuldades. E agora? Como termina o ano de 2015 para nós? O que será do nosso Botafogo, que ajudamos a construir?”

“Não se preocupe, Mané. Já voltamos pra casa, e parece que a nova diretoria tem boas intenções. Eles não dão tiros igual ao Saldanha, mas são apaixonados e conscientes. Essa é a primeira impressão. Resgataram a auto-estima daquela gente toda que nos aplaudia no Maracanã lotado... Lembra-se? Eles estão felizes, e inclusive, cantam o nosso nome em uma das músicas entoadas nos estádios.”

“Entendi. Nilton, você sabe que eu nunca tive muito estudo. Mas com a bola nos pés eu dava aula. Não poderia perder essa oportunidade... Deixaram de levantar um troféu no estádio de seu nome para levantar no estádio que leva o meu nome... Te driblei mais uma vez, caro amigo!”

“Você não perde a pose, Mané! Mas lembre-se que o primeiro drible que você me deu, ainda naquela peneira no Botafogo, foi o responsável pelo início da sua carreira. Se tem algum estádio lá embaixo que leva o seu nome, é porque eu não queria nunca mais marcar você. Mas esse seu segundo drible eu aceito. Pelo bem do nosso Botafogo.”

Enquanto eles convivem em harmonia lá em cima, nós os reverenciamos e festejamos cada conquista do Glorioso aqui na Terra. Obrigado, Nilton Santos e Mané Garrincha. Parabéns, Botafogo, por voltar no campo, de forma legítima e nobre. Que venha 2016, para que possamos escrever novos capítulos da mais bela história do futebol mundial! E para que possamos, talvez, proporcionar novos diálogos divertidos entre os nossos ídolos lá em cima.

Saudações Alvinegras! O Gigante está de volta!

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