Toda gastança será castigada

sexta-feira, 18 de março de 2016

João Clemente, bem aqui na mesa da frente, enquanto eu rabiscava ideias para o caderno, conseguiu transformar em uma frase simples todo o meu sentimento do momento: ter que ‘dar certo na vida’, principalmente a financeira, deprime.

Se o meu dinheiro falasse, diria: ‘Fui!’.

Há quem nasceu pra isso, eu acredito. Gente com uma tendência mínima para a organização com as verdinhas, o que não é o meu caso. Gente que tem livro caixa na cabeça, que anota as despesas, que pede desconto. Eu, não. Eu achei trinta reais no bolso de uma bermuda hoje e o que senti foi misto de esperança e desespero. De onde surgiu aquilo? Logo eu, que sei de cor e salteado as moedas de um real no fundo da gaveta? Mistério, um grande mistério.

Bom, pelo menos achei, não perdi. Aliás, difícil eu perder dinheiro, a não ser aquele que a gente julga perdido por ter comprado algo supérfluo ou totalmente sem funcionalidade prática, tipo dar R$ 12,90 num batom roxo que nunca mais vai usar. Não que eu faça isso com frequência, quando faço quase nunca é coisa cara - mas me envergonho toda vez.

Todo mês eu corro a maratona do cartão de crédito. O dinheiro nunca dá, o dinheiro nunca é o bastante e tem sempre um supermercado no caminho da dívida. Pagar cartão de crédito é como jogar o jogo da vida. Às vezes eu ainda me surpreendo com os malabarismos que tenho feito nos últimos anos, cada mês uma treta diferente, para não me arrastar pela vida com essa sensação incapacitante e de imprestabilidade que as dívidas trazem. Foda, tem mês que não fecha, de jeito nenhum. Nenhum mesmo. Nem rezando. Santa Edwiges faz a egípcia pra mim todo dia 15.

Nesse ponto, reconhecendo minhas dificuldades cognitivo-financeiras-comportamentais, percebo que nunca tive aspirações de ser dona de negócio. Trabalharia em home office, se pudesse, mas ainda esperando o dinheiro cair direto do bolso do chefe. Além de desorganizada, sou coração mole. Ao que me consta, esse povo bem-sucedido não é coração mole, é sangue no olho. Eu ponho os óculos no sofá e sento em cima deles menos de cinco minutos depois, eu não sou exatamente o perfil de quem pode se dar ao luxo de gerenciar alguma coisa além do próprio equilíbrio.

Rezar para que o dia 5 chegue logo é uma das piores formas de dependência. Mas a gente segue aí, né. Vivão e vivendo.

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Ana Blue

Blue Light

O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.

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