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sexta-feira, 22 de julho de 2016
Foto de capa
Marcel Proust levava seus editores à loucura com suas alterações em textos "finais"

Hoje, no finzinho de uma roda reunião de amigos aqui em casa, contei o dia em que eu saí danada da minha vida de casa pela rua de pantufas.

Foi assim: eu varri mal e porcamente a sala, que é onde vai gente arrumei a casa inteira, enfiando tudo no guarda-roupa, como de costume dobrei e guardei as roupas, acendi um incenso e fiquei aqui, no mesmo sofá onde estou espremendo o meu cérebro por uma inspiraçãozinha que seja sentada e escrevendo agora, entregue ao desânimo e à preguiça me deliciando com a paz que traz uma sala casa arrumada.

Aliás, eu sempre arrumo a casa quando não tenho mais onde pisar de tanta bagunça recebo visitas. Não gosto que encontrem sutiãs pela casa se sintam acolhidas. Mesmo que seja puro fingimento uma arrumação de mentira, já que por trás das portas dos armários se esconde a verdadeira fúria dos bagunceiros, assim como a fúria da minha cabeça está comportada num rosto pueril eu não cheguei a lavar nada, só tirei a sujeira mais superficial.

O que importa é o que eu penso, os outros que se danem se vê, por isso o externo está apresentável arrumado. O que se tem por dentro, a gente nunca dá um jeito com o tempo. Estamos sempre tão caóticos, chorosos, estressados, sofridos, endividados, esperançosos, receosos, ansiosos, atrasados ocupados...

Enfim. Nesse dia – contava eu aos meus amigos -, depois de deixar a sala fedendo a patchouli tudo perfumadinho, tipo esposa escravizada moça prendada, fumando um capetinha bebendo meu nescauzinho no sofá, lembrei de levar o lixo lá embaixo. E, sabe Deus por que, reparei que estava com sete reais e trinta e cinco centavos o troco de alguma compra no bolso, e como eu precisava de dados pra falar com meus crushes amigos no Whatsapp, fui do lixo direto pra farmácia, colocar vida crédito no celular.

Atravessei uma avenida, a ponte, e só no sinal fechado da outra avenida que eu vi que estava com um par de pantufas de coelhos comendo cenouras, com orelhas enormes. Daí que eu voltei gargalhando de nervoso, assustando as velhinhas de fininho, que eu morro de medo que me internem eu não sou tão excêntrica assim.

O causo sem a menor importância virou um texto meio que requentado pra coluna, exatamente um ano depois de acontecer. Ele define bem a minha falta de bom senso com a vida personalidade, mais que o horóscopo. Eu em casa, cheia de gente que importa em volta, ouvindo sobre o dia que saí de casa querendo ser atropelada e morrer de pantufas. Nada importante, mas eles estavam ali. Minha ideia essa semana era escrever sobre todos os que eu acho que são meus amigos, nominá-los por grau de presença importância, por conta do tal dia do amigo que rolou essa semana, mas o texto ficaria enorme, mas faltando gente importante e sobrando gente que não importa mais denso.

Eu sou uma pessoa de bom caráter, é preciso ter bom caráter para sermos e atrairmos amigos de sorte. São tantos amigos. Eu arrumando ou não arrumando a minha cabeça desordenada a casa, eles nunca param de aparecer. E cada um traz mais um, é uma rede. São muitos. De todas as formas, cores e graças. Graças a nós a Deus.

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Ana Blue

Blue Light

O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.

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