O ato de escrever

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Fábula

Eternidade – divindade que os antigos adoravam e que eles representavam debaixo da imagem do tempo

(Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré – com argumentos tirados da história poética – Ed. Garnier – Paris)

Linha do tempo

“Uma palavra escrita é a mais fina das relíquias”

Henry Thoreau

O ato de escrever

 “Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias”.  Assim define o escritor Pablo Neruda sobre a arte de escrever. Mas existe muita coisa mais. No último dia 25 foi comemorado o Dia do Escritor.

Os escritores são aqueles que proporcionam voos ao céu com os pés no chão, propiciam navegar por todos os mares do mundo e até aqueles que nunca foram vistos.

No Dia do Escritor deve-se enaltecer toda a criatividade e inteligência daqueles que colocam todos em contato com novas culturas, novas vidas e novos mundos. Dia de agradecer àqueles que contam histórias para dormir, histórias para refletir, histórias que fazem acordar para a vida. Seja fantasia, seja real, não há segredo, um bom livro pode mudar toda uma vida.

Escrever, por sua vez, demanda talento, imaginação e capacidade de lidar com as palavras. Criar personagens que se tornam nossos amigos ou inimigos, que viram nossos amores platônicos e por vezes grandes exemplos do que queremos ou até do que não queremos ser, com certeza não é uma tarefa fácil.

Grandes escritores brasileiros

A literatura brasileira é extremante rica e diversificada. Existem títulos para todos os gostos e histórias para todos os corações. Confira alguns dos maiores escritores do Brasil e se apaixone pela literatura verde e amarela: 
- Machado de Assis, Rio de Janeiro (1839-1908)
- Carlos Drummond Andrade, Minas Gerais (1902-1987)
- Clarice Lispector, ucraniana, viveu em Pernambuco e no Rio de Janeiro (1920-1977)
- Cecília Meireles, Rio de Janeiro (1901-1964)
- Érico Verissimo, Rio Grande do Sul (1905-1975)
- Gonçalves Dias, Maranhão (1823-1864)
- Nelson Rodrigues, Pernambuco (1912-1980)
- José de Alencar, Ceará (1829-1877)
- Manuel Bandeira, Pernambuco (1886-1968)
- Lygia Fagundes Telles, São Paulo (1923)
- Mário de Andrade, São Paulo (1893-1945) 
- Vinicius de Moraes, Rio de Janeiro (1913-1980)

Entre aspas

 “Um escritor é alguém congenitamente incapaz de dizer a verdade. Por isso, o que ele escreve chama-se ficção”. (William Faulkner)

 “Quando os escritores morrem, eles se transformam nos seus livros. O que, pensando bem, não deixa de ser uma forma interessante de reencarnação”. (Jorge Luís Borges)

 “As duas coisas mais envolventes de um escritor são tornar familiares as coisas novas e tornar novas as coisas familiares”. (Samuel Johnson)

 “O grande escritor não precisa ser nem muito inteligente nem muito culto. A inteligência e a cultura são, contudo, indispensáveis nos escritores menores”. (Lêdo Ivo)

 “O verdadeiro escritor não tem nada a dizer. O que conta é o modo que ele diz”  (Alain Robbe-Grilet)

 “Escritores, meditem muito e corrijam pouco. Fazei as vossas rasuras no vosso próprio cérebro”. (Victor Hugo)

Falando de si

Alguns grandes nomes da literatura mundial expressaram as suas impressões sobre o ato de escrever e de criar. As impressões podem servir para inspirar os que desejam se tornar influentes no ramo e também são excelentes para mostrar aos leitores ávidos o que passa na mente daqueles que conseguem nos inspirar.  

 “Todos os bons livros assemelham-se no fato de serem mais verdadeiros do que se tivessem acontecido realmente, e que, terminada a leitura de um deles, sentimos que tudo aquilo nos aconteceu mesmo, que agora nos pertencem o bem e o mal, o êxtase, o remorso e a mágoa, as pessoas e os lugares e o tempo que fez. Se conseguires dar essa sensação às pessoas, então és um bom escritor”.

(Ernest Hemingway - em Escrito de um Velho Jornalista ).

 “Assim, os que produzem obras geniais não são aqueles que vivem no meio mais delicado, que têm a conversação mais brilhante, a cultura mais extensa, mas os que tiveram o poder, deixando subitamente de viver para si mesmos, de tornar a sua personalidade igual a um espelho, de tal modo que a sua vida aí se reflete, por mais medíocre que aliás pudesse ser mundanamente e até, em certo sentido, intelectualmente falando, pois o gênio consiste no poder refletor e não na qualidade intrínseca do espaço refletido”.

(Marcel Proust em À Sombra das Raparigas em Flor).

 “Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e o representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida – umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso”.

(Fernando Pessoa em Livro do Desassossego).

“Quando adolescente escrevia poesias. Mas nunca aprovei nada. Faltava-me o sentimento de pertencimento. Era muito crítico e reescrevia muitas vezes. O ato de escrever era muito distante. Mergulhei na leitura e me vi, muitas vezes, reescrevendo as histórias dos outros. Depois de muito tempo desconstruí as normas. Os modelos. Fugi das técnicas, me distanciei dos comparativos e fiz um pacto com as palavras, me permitindo atravessar o abismo que anteriormente parecia tão profundo. Descobri que escrever me liberta e me empodera. Reconstruo mundos, brinco um pouco de ser o criador, construindo personagens e traçando destinos. O que parece ousadia dizer e declarar, um pecado. Escrevo todos os dias. O ato de escrever me faz feliz. Pena que tenha perdido tanto tempo me cobrando mesmices. Não serei nunca um Machado, um Drumond, um Garcia Marquez. Eles também nunca serão como eu. Como disse José Saramago: "Somos todos escritores. Só que uns escrevem, outros não."

(David Massena – escritor)

“Não tenho hábito de escrever. O que eu tenho é impossibilidade de parar de ler. Antes de ser escritor, sou leitor. Voraz, se o tempo me permitisse mais. Mas escrevo sempre. Não desde sempre. Mas quando eu percebi que o ato da escrita era uma espécie de confissão inacabada com o mundo, não parei mais de escrever. Olhar o mundo, meu, interno, e o universo ao meu redor sem testemunhá-lo é como ter asas e rastejar. Assim, todos os dias reinauguro meu voo sem antecedências e sem destino certo. Mesmo quando estou escrevendo um novo livro Acabei de escrever um agora: Ensaio sobre o Gênesis. Se o mundo não acabar, espero que o leiam”.

(Carlos Eduardo Leal. Psicanalista e escritor)

“Escrever para mim sempre foi uma necessidade. Talvez a necessidade fundamental de transcender o tempo e a morte. Mas desde 1981 escrevo para crianças e essa opção localizo a princípio como uma forma de resgatar a criança que fui, que me deixaram ser, plena e feliz. Com a prática e o convívio com elas penso que escrevo para vê-las felizes com minha literatura e para me acriançar por conseqüência”.

(Alvaro Ottoni – escritor)

 “É lugar-comum dizer-se que escrever é um ato solitário. Solitário, sim, mas, ao mesmo tempo, solidário, porque quem escreve o que mais profundamente deseja é comunicar, comunicar-se. É essa necessidade de dialogar com um leitor ausente e desconhecido que põe o escritor diante da famigerada página em branco. Pacientemente, ela espera pelas palavras que realizarão (ou não) o milagre da comunicação. Para quem envereda por essa solidão solidária não há opção. Não se escreve porque se quer, mas porque se precisa. Pois, como disse Ferreira Gullar, “A arte existe porque a vida não é suficiente”.

(Robério José Canto – escritor e presidente da Academia Friburguense de Letras)

 “Antes, eu achava que escrever era um processo dolorido. Acostumada a escrever diários, que eram minha expiação e tratamento – o único possível – não era de se admirar que cada pedacinho de coisa escrita tivesse um cadinho de dor acoplada. Mas com o tempo, domei as letras, danadas. E fui escrever pra doutor, pra anúncio de farmácia, pra quem precisasse mandar carta de amor, pra vereador, pra rótulo de licor. Fui escrevendo, desdizendo a dor do ato e transformando o ato em cifrão. Mas uma parte de mim ainda dizia não, ainda compunha diários, acreditava em amores perdidos, sonhos desencantados. Hoje escrevo assim: equilibrando cronista e jornalista, cigarra e formiga dentro de mim.”

(Ana Blue – escritora e editora do caderno Light)

Ler para escrever

O ato de escrever, para que seja algo costumeiro e espontâneo, deve ter início no ensino escolar básico, passando pelo fundamental e ganhando maior força no ensino médio, onde a preparação para concursos vestibulares exige do aluno maior conhecimento e intimidade não só com a capacidade de produzir um texto linear, coerente e coeso, mas com a interpretação de textos simples, que visam medir o nível de compreensão dos jovens, que, na maioria das vezes, são vítimas do analfabetismo funcional. Nesse processo de leitura e produção de textos deve-se praticar uma leitura qualitativa, onde há uma interação entre o texto e o leitor, já que existe uma seqüência contínua do ler para o escrever.

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