Ciclovia: construtora é do avô do secretário de Turismo

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Acendeu, desabou
Enquanto a tocha Olímpica acendia na Grécia e chegava às mãos do ex-jogador de vôlei Giovani, que celebrava em Atenas a realização dos Jogos Olímpicos no Rio, a ciclovia Tim Maia, que liga ao Leblon a São Conrado — inaugurada apenas há três meses por um custo de R$ 45 milhões — desabava na capital deixando duas pessoas mortas. Para os especialistas, foi erro de projeto.

Não foi previsto
Fato é que as possíveis fortes ondas que marcam ressacas violentas na orla carioca deveriam estar previstas no projeto para construção da ciclovia. A região sempre foi considerada uma das principais áreas afetadas pelas ressacas. Ou seja, não dá para colocar a culpa em Yemanjá! Era totalmente previsível. Tanto é, que não tardou três meses para a a tragédia acontecer. Mais previsível impossível...

Perícia independente
O prefeito Eduardo Paes estava em Atenas, na Grécia, acompanhando a tocha olímpica no momento do desastre. Por isso, ficou à frente do caso, nos primeiros momentos, o secretário executivo de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Carvalho Teixeira. Paes informou que irá contratar uma perícia independente para investigar as causas do acidente. Mas, prefeito... Uma perícia contratada pela prefeitura para provar que o erro foi da construtora, e não da prefeitura, não tira da prefeitura as responsabilidades pelas mortes. Quem contratou a construtora foi a própria prefeitura, que não colocou devidamente seus engenheiros para acompanhar a obra.

Superfaturada
O grupo responsável pelo projeto foi a Contemat-Concrejato. Cerca de dois meses antes da inauguração, resolveu mudar o responsável técnico pela obra, de acordo com publicações no Diário Oficial, indicando que a gestão do projeto já era algo que não ia bem. Ainda de acordo com publicações do D.O, o valor inicialmente previsto para obra era de R$ 35 milhões. Mas, como atrasou um semestre, ainda recebeu mais dinheiro. Chegou aos quase R$ 45 milhões, ou seja, 30% a mais do que o previsto.

Ajudando a política
A Concremat sempre foi uma empresa preocupada em ajudar a política carioca; Nas últimas eleições, realizou no Rio doações para as campanhas dos deputados estaduais Luiz Paulo (PSDB), Thiago Mohamed (PMDB) e Carlos Osorio, que trocou este ano o PMDB pelo PSDB. Para Thiago, a construtora desprendeu R$ 200 mil.

Mais falhas
Cega pelo fogo da Tocha Olímpica na Grécia, a prefeitura do Rio esqueceu de emitir os alertas sobre as ressacas, como sempre fez. Apesar das fortes ondas que atingiram o litoral – algumas chegaram a 3 metros - não houve qualquer alerta e, muito menos, interdição de trechos que historicamente sofrem com a elevação das marés neste período. Enquanto se formava um ciclone no Sul do País que com reflexos em muitas orlas brasileiras, principalmente na Sudeste, os meteorologistas a serviço da prefeitura do Rio estavam assistindo a transmissão da abertura dos Jogos. Só trocaram de canal quando a ciclovia desabou.

Marinha também falhou
Na terça-feira, às 22h, houve um alerta da Marinha para ressaca no trecho entre Saquarema, na Região dos Lagos, e Macaé, no Norte Fluminense, mas para esta quinta-feira não havia alerta por parte da corporação. O comando das Atividades de Salvamento Marítimo do Corpo de Bombeiros ainda espera encontrar mais três vítimas no mar. De acordo com o coronel Marcelo Pinheiro, testemunhas garantem que cinco pessoas teriam caído no mar. Até agora, somente duas vítimas foram encontradas sem vida.

No mais..
A Concremat publicou um texto há um mês dando ciência de que não havia nenhum planejamento prévio da prefeitura para obra e que o órgão pressionava a empresa por uma entrega rápida. Mas o pior vem agora: a escolha do consórcio para fazer a obra e receber o valor mais caro do mundo para a construção de uma ciclovia pode ter sido negociada nas sombras. Isso porque a Concremat, principal empresa do grupo responsável pelo projeto foi fundada em 1952 pelo avô do atual secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Viegas Figueiro de Mello. É um escárnio que os políticos entrem na administração pública carioca para enriquecimento próprio de suas famílias e empresas.

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Alessandro Lo-Bianco

A Voz do Rio

Pai da Valentina, Alessandro foi repórter da Band News, revistas da Editora Abril, Jornal O Dia, Portal IG e Último Segundo. Atualmente é repórter do Jornal O Globo e ventila aqui na serra, todas as segundas-feiras, um pouquinho da maresia carioca.

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