Tempo favorável

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Caros amigos, na última quarta-feira, 14, teve início o itinerário quaresmal em preparação para a celebração da Páscoa do Senhor. A quaresma é um tempo muito importante, “um tempo favorável” (cfr. 2 Cor 6,20) de apelo à conversão: “Voltai a mim de todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto” (Jl 2,12).

O mundo oferece muitas coisas sem valor, que roubam a dignidade, a liberdade e a capacidade de amar. A quaresma é um convite a um profundo exame de consciência. As práticas de piedade, próprias deste tempo, são meios de se evitar a distração com o que é passageiro, e de reafirmar a condição de que todo homem é um pecador que conta com o auxílio da graça de Deus.

Os exercícios quaresmais elencados no evangelho (cfr. Mt 6,1-18), favorecem uma experiência pessoal do encontro com o Pai que vê o que está oculto. Logo, não podem ser vividos como uma prestação de contas de uma vida de santidade ou como meio de agradar a quem quer que seja. “Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles” (Mt 6,1).

São Pedro Crisólogo ensina que o jejum, a oração e a esmola “mantêm a fé, dão firmeza à devoção e faz perseverar a virtude. (...) O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente”.

Separadas, estas três realidades esvaziam-se de sentido. O jejum não é somente a privação de alimento, mas unido à oração e à esmola conduz à conversão e ao cuidado com os necessitados.  O “sacrifício agradável a Deus é um espírito penitente” (Sl 50, 19).

O Papa Francisco com sua sensibilidade pastoral propõe o jejum das palavras negativas, do descontentamento, da raiva, do pessimismo, da fofoca, da maledicência... É preciso jejuar do que é pedra de tropeço e ocasião de pecado, do que nos separa de Deus e dos irmãos. O jejum deve ser regado de misericórdia, pois é ela quem o faz frutificar.

O jejum enfraquece a violência, desarma os corações e constitui uma importante ocasião de crescimento. Por um lado, permite experimentar o que sentem quantos não possuem sequer o mínimo necessário, provando dia a dia as mordeduras da fome. Por outro, expressa a condição do espírito humano, faminto de bondade e sedento da vida de Deus. O jejum faz despertar, aproxima o homem de Deus e do próximo, reanima a vontade de obedecer a Deus, o único que sacia a nossa fome (Cfr. Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma de 2018).

Quanto a oração, Jesus convida a uma atitude de intimidade que só Deus vê. O que importa é a constante atitude de oração, pois é ela que fortalece os propósitos de santidade, como ensina o apóstolo: “Orai em toda circunstância, pelo espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos” (Ef 6,18).

O mesmo se pode dizer da esmola que liberta o coração da ganância e o move à fraternidade. Fruto do jejum, ela deve ser mantida em segredo, com a consciência de se ter feito apenas o que se devia fazer (cfr. Lc 17,10).

Vivamos, pois, a quaresma em seu real valor de preparação para a grande celebração da ressurreição do Senhor e também nossa. Desejo que a prática consciente dos exercícios quaresmais nos faça viver a penitência, a conversão de vida, o incremento da oração e da caridade fraterna. Santa quaresma a todos!

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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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